Deste tempo que parou, o que ainda se arrasta do tão sonhado e triunfal encontro com a poesia? Algumas palavras roubadas, gestos alheios, fagulhas do céu calado, este que se fecha todas as noites, por mais brilhantes que sejam as estrelas... Emudecida e despedaçada, ainda sigo catando versos.
Eles são hostis, áridos, pouco expressam em sua quase morte... mas isto ainda é uma pouca vida, palpitações repentinas que de um dia vazio agitam o coração cansado de estar deitado. A casa, a cama, o quadro, a tela, é isso o que de resto tenho hoje, e nada mais para molhar os olhos.
É preciso seguir. Encarar. Quero mesmo viver. E também quero plantar e colher o Sentido. Ele há, eu o conheço. Já me deparei com ele em escombros, vielas, esquinas e olhares profundos. Também em palavras que se encarnaram, nas veias, nas lágrimas, nos dedos trêmulos de um coração aflito.
E não me importo com o que pensam, como julgam, exaltam ou condenam... o caminho sempre foi e será solitário, e não há pódios que eu queira. Sigo na insignificância da minha existência, dos meus dias e pensamentos.