sexta-feira, dezembro 04, 2015

Dance sim

Sim!
Abra as suas mãos e corra
corra até suas asas brotarem -
e então voe!
Para aprender a dançar
primeiro é preciso aprender a voar:
a des-prender o ar
desaprender de pesar
descer do altar
esquecer o condenar
espraiecer o amar -
dissolver, perdoar e se entregar.

Sim!
Abra os seus braços e voa
voa até atingir os seus sonhos -
e então dance!
Dance com o infinito
dance com o não dito
e até com o mal-dito
dance com tudo que lhe é quisto
dance e supere o sub-omisso
Sim! É preciso dançar ao ritmo do universo
com sua imaginação, seu corpo e seu reverso
e se equilibrar diante do precipício e do eterno.

domingo, junho 28, 2015

Se morre

Não se para o tempo -
por muito tempo se é jovem
a ponto de se fazer acreditar que
o seremos pra sempre
mas a vida passa, não tarda
e você olha pela janela e pelo espelho
e nada mais é o mesmo
sulcos, sobras, rugas e dobras
é o que se faz nas superfícies
da terra e do corpo:
é que toda água seca
todo rio desemboca
todo corpo desintegra
e todo vivo morre
e vai embora

O que vale

Nem torres, monumentos, arquiteturas,
catedrais, quadros, ou ruas,
nem congressos, conferências
ou aulas magistrais,
nem bibliotecas, livros,
documentos originais,
nem Europa, cidades, vinhos,
culinária francesa, italiana
castelos ou moinhos...
De tudo que vem e vai,
mesmo o mais belo
como o pôr do sol,
rios, flores, pássaros,
o que realmente
me impressiona e encanta
é ainda a alma humana

quinta-feira, junho 25, 2015

Sinão

Sim, mas sim!
Sim, mas não!
Sim que é sim, sim que é não,
não que é sim, ou talvez,
apenas solidão.
Amor que é ódio,
verdade pura mentira,
o eu que não se acha,
o outro que é apenas eu mesmo.
Paradoxos aberrantes
das tristezas sorridentes
e das falsidades
que se dizem amizades.
O auto-engano
que se quer realidade
e a fantasia que a tudo
melhor explica.
Máscaras coladas às faces
faces sem formas
corpos sem memórias
palavras sem fundo
limpeza que nunca se livra do imundo:
é esse o mundo caduco
que habita na cavidade
cerebral do obscuro
é essa toda a falação do mudo,
é essa toda a solidão
que se vive em grupo.
Sim, mas não
afirmação da pura
negação.

terça-feira, abril 21, 2015

sábado, fevereiro 28, 2015

Meu amigo Michel

Ele me disse tantas coisas importantes,
assuntos relevantes
falou da nossa vida
nossa história, nossa ferida
falou da nossa fraca condição
nossa miséria e ambição
me mostrou que somos feitos de pedaços
do hábito, do acaso
do que inventamos, fantasiamos
e nos enganamos
me mostrou que pela letra
muita coisa podia ser feita
que barreiras poderiam ser desfeitas
que nossos defeitos compõem o nosso jeito
que a cada dia, cada tentativa reescrita
confessada e assumida
se tornaria autoconhecimento
que as palavras sinceras
compõem nossa atmosfera
que os pensamentos expressados
refazem o nosso passado
que a ideia bem dita
se torna nossa amiga
nas horas das dores,
do parto, do choro
nas horas aflitas, contritas, malditas
que escrever é cantar a vida
é sangue, é carne, é substância unida
que pode ser mentira ou verdade
tudo depende da lealdade
que se tem, àquilo que lhe advém
e da coragem de dizer
o lado negro de seu ser
da vontade de crescer
e também de conhecer
ele me mostrou
que o ensaio também faz parte do show
que tudo pode ser importante
e que isso depende do valor
que se dá a cada instante!

Onírico

Entre o sonho e aquilo que se sonha
há, se não um elo perdido,
um elo não tão facilmente encontrado:
entre ser apenas um sonho
e ser aquilo que se sonha
há uma misteriosa conexão
não revelada pelo estado de dormência -
não plenamente desvelada pela vigília -
há dores jamais conhecidas
e dores incognoscíveis
há um não sei o que de nós
que não sabemos o que é
uma vontade inexplicável
pelos espaços estelares
um brilho, quase um delírio
de algo muito lindo
porém intangível

terça-feira, fevereiro 17, 2015

Arrependimento

Quero
eu quero
contudo
não deveria.
não quero
me arrependo
exonero
e volto
a querer.
queria...
todavia
não posso mais.
- volto a querer -
confundo
me afundo
não mais querer
quero
é tarde
desquero
a parte,
te quero
destarte
me impeço
de achar-te
não quero
me condeno
me despeço
e aceno
sigo, prossigo
volto
ao problema
querer eu
quereria
embora
não deveria
mas eu quero
e não posso
o tempo
se fechou
e o azar
é nosso

sexta-feira, fevereiro 13, 2015

Minha janela

O vento, as árvores, os pássaros
e as folhas dançando em roda no bosque
a todo instante me permitem um retorno
ao momento primordial da criação

Cessa a história dos homens
silencia o tumulto do mundo -
é um ainda poder habitar a Natureza
e dela me sentir parte

Pelos olhos ou pela ilusão
que eu faço questão de inventar a cada dia -
olho pela janela, caminho descalça pela grama fresca
absorvo o calor do sol em minha pele...

Apenas vivo...
O vento, as árvores, os pássaros
e as folhas dançantes do bosque...
Respiro.


quarta-feira, fevereiro 11, 2015

Medievo

Entre vozes estranhas
e línguas vorazes
acordei em plena Idade Média
em um mundo que se quer
imutável, datado, rotulado:
abrigos feitos de pedra
carroças de metal
enfeites de ouro -
tudo feito pra durar
pro homem se eternizar
através da materialidade
sua devoção e transcendência
pela via dos monumentos e fortalezas
fortes e igrejas -
a beleza se fazia
em um molde arrogante
em mentiras construídas -
à imagem de seus anseios
e semelhanças

domingo, fevereiro 08, 2015

Encontrar a voz

Encontrar a voz
entre a ativa e a passiva
a voz que não condena
nem petrifica
encontrar a voz
menor, distribuída
a voz do possível
das frestas, a voz
que não berra,
não cala,
só associa.
Encontrar a voz
em meio tom,
entre o dado e o incriado,
entre o criador e sua cria,
a voz que não teme,
mas também não se apropria.
Encontrar a voz
sem patrão e sem lacaio
sem certezas, sem serviços
sem serventia
e sem trabalho.

Michel de Montaigne

Lendo-o, pensaram tê-lo compreendido

muito dele falaram e escreveram

mas nada fizeram

daquilo que ele havia dito:

agiram de modo contrário

exatamente da mesma maneira

que por ele fora tão criticado.

Falando sobre os ensaios,

continuaram a assinar contratos

e a estabelecer as diretrizes dogmáticas

e pedantes do mundo letrado.

Aceite

Aceite-se
e durma tranquila
repouse sua cabeça num doce regaço
que amanhã não tarda
e hoje pode ter sido
seu último dia.
Aceite-se
e desfaça-se
de todo atordoamento
advindo do tumulto do mundo.
Hoje vivemos e sonhamos
que estamos vivendo
e estes sonhos nos enlevam
para onde quisermos...
mas se nossos devaneios
forem envenenados
nada é o que nos restará
e estaremos despidas
de nossa alma, de nossa essência,
daquela porção etérea
que nos dá forma

sábado, fevereiro 07, 2015

Big-Bang

Quero abrir meu coração
- mas não em um procedimento cirúrgico -
quero abri-lo em explosão
em uma intensa profusão de sangue
de vida jorrando seiva fecunda
quero rasgá-lo com fogos de artifício
da mais alucinada pirotecnia de cores e brilhos -
quero expô-lo na janela
de algum prédio ressecado e ressentido
quero dispará-lo em tambores
advindos das mais profundas florestas
d'onde a vida ainda queime
em sua faísca mais primitiva
quero expandi-lo e virá-lo do avesso
e que ele engula o mundo inteiro
triturando de amor cada carne fria e amargurada
cada desamor que machuca,
que tortura e que mata.


Inscrito

Aquilo que você quer

escreva na tua pele

com letras maiúsculas e legíveis

e se faça inteligível

ao tato e ao olfato

e também ao intangível -

escreva em tua carne

crave com unhas, com fatos,

com sangue e arte.


sexta-feira, janeiro 30, 2015

Essai

L'essai : la forme sans contenu
Le texte-mouvement
La tessiture ouvert, à exposer
Le poignet coupé
et, à partir de lui
jaillissant acte
Acte, encore manqué

La Nature sans essence
monadique apparence
L'artificiel : sans l'opposé
fruit du perfaire
sans savoir pourquoi ou qui

L'essai c'est un acte, un actuer
c'est un fait, un factuar
c'est un faire qui dans ses entrailles
c'est seulement acte à s'ecrire -
"succulent et nerveux"...

Cura

Viver dói
e como se não bastasse
também machuca.
Caso é que a dor pode ser tão grande,
e o machucado tão profundo,
que chega até matar.

quarta-feira, janeiro 21, 2015

Um sonho

Senti em meu peito
um imenso céu azul
com nuvens brancas flocadas
uma mistura de liberdade e alegria
um estado de tranquila euforia

Senti a pulsação
do amor infinito
num curto período
de tempo perfeito

Senti bem aqui
dentro do meu peito
a transcendência da felicidade
a imensa necessidade
de viver e amar por inteiro

Atenção!

Acabaram-se todas as ofertas
para se viver um amor
inteiro e verdadeiro -
agora deve-se amar
aos poucos e à prazo
também pode ser comprado
no cartão de crédito
e parcelado

Poeminha

Há momentos
que ficam pra eternidade
pra nunca mais
pra saudade
momentos que jamais voltarão
e que ficarão apenas
na nossa lembrança,
guardados em versos
em um caderno velho
dentro da gaveta
do fundo do coração!

Auto-retrato

Eu, que nunca sei o que sou

e ainda ando a tropeçar sobre

os castelos de areia que construí,

acho mesmo difícil de acreditar

que somos algo tão sério e seguro

como queremos transparecer -

acho mais fácil aceitar e dizer

quão tolos e trêmulos

temos sido em nosso viver.

sábado, janeiro 17, 2015

Quintal

Meu quintal
meu universo
Tudo ali
é processo:
criação de mundos
e estrelas
joias e
brincadeiras
alegrias
e tristezas -
é onde me encontro
e me desfaço
comigo trombo
ao acaso
é onde me enterro
e ressuscito
é onde me dou
e me permito
é meu espaço
sem tempo
é meu diálogo
ao vento
é minha terra
fecunda
minha viagem
à lua
meu raio de sol
meu pedaço
de grama
árvore com rede
e ao chão
estendida a canga:
é o direito de
simplesmente viver
respirar, falar bobagens
e devanear
direito de ser ninguém
ou, apenas, alguém
alguém como um pássaro
ou uma eterna criança
alguém que faz versos bobos
e disso não se envergonha
alguém que ainda se apaixona
pela beleza do mundo
pelo sentir profundo
pelo olhar fecundo
pelo sorrir conjunto
é o paraíso
ainda não perdido
é o tempo
propício
é a companhia
das musas:
sem medos, remorsos,
traumas, divórcios
é o viver
no puro ócio -
é a simples e pura
graça da vida.

Sentido da poesia

 Alguém me disse que a poesia precisa ter sentido, dizer coisas conexas, senão, não é poesia. O que é ter sentido?  Que sentido é esse que s...