terça-feira, dezembro 14, 2010

Um ninho

Venha, venha cá!
Aqui há um galho, há um ninho
há uma casa, um pomar
para abrigar os passarinhos!

Pequeninos passarinhos
aqui podereis voar, borboletear
pequeninos...
podereis cantar o seu canto de carinho

Pequeninos, o que eles não sabem
é que apesar de toda destruição,
guerra, corrosão
ainda há um espaço para morar:
fica dentro do coração!

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Mundo Novo

Criações?
Crianções!
Sim! Crianças grandes
vivendo de fantasias
que não são em nada
menos reais do que
o mundo quadrado adultizado

mais vantagens:
não há vergonhas
que impeçam a expressão
nem limites para a expansão
- há ainda muito o que crescer!

Uma configuração diferente -
não nomenclaturar!
Apenas pintar, ilustrar, perfumar
inventar, admirar: sonhar

Desta fantasia
a vida
o nosso habitat
a poesia!

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Sensibilidade financeira

Sim, você tem sensibilidade

pena que ela é curta, rasa..

justamente porque ela acaba

aonde começa o império da grana.

Vidente

Pode ser que sua máscara seja espessa o bastante
para que não te vejam.
Pode ser que sua fantasia seja tão alegórica
que não lhe reconheçam.
Mas de mim
você não se esconde!
Vejo você!
Tuas raivinhas e ódios
gostos e desejos profundos
pensamentos esquivantes e macabros.
Vejo você no silêncio do seu quarto
rindo sozinho e desfazendo-se em lágrimas
teu céu e teu inferno
teu divino e teus demônios.
E quer saber mais?
Não precisa se esconder!
Porque eu
também sou igual a você!

No adjective

Peço encarecidamente:
Não me adjetive!
Isto poderia acabar
com a nossa tão promissora amizade.
Ao me pensar como isto ou aquilo
estaria me congelando
paralisando um defeito momentâneo
algo passageiro
por questão de aprendizagem.
Ao aí focar
me condenaria em não mais crescer.
Também peço:
não eleve ações qualitativamente
consideradas boas
elas também são transitórias!
Não jogue confetes...
Poderia me fazer acreditar melhor do que sou
e tão somente NÃO SOU.
nem aquilo, nem isto
nem adjetivo algum.
sou apenas o que vou sendo
como você, aprendendo.
e então amigo
seremos para sempre indefinidos -
indefinidamente, amigos.

Meus cabelos

Quando eu for bem velha
- e velha de cabelo branco -
como será meu cabelo?
Branco? colorido?
curto? comprido?
arrumado? bagunçado?
será que vou deixar
solto e despenteado?
Ah... vou deixar...
deixar o tempo
o arrumar...

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Quando o amor me invade

Quando o amor me invade
e preenche todo o meu dia
já mais nada que dói corrói
e as tristezas são pura melancolia

esqueço mágoas, rejeições, covardias
esqueço tudo e sou pura euforia
quando o amor me invade
sou eu a idiorritmia

Ah, e quando ele me invade
sou eu um pássaro, uma criança
sou eu riso, música, dança
sou planta, palavras, doce esperança

O que te dou

O que te dou você não sabe
mas são gotas da minha carne
sangue de poesia

o que te dou você não sabe
mas é muito do que arde
do que me inebria

o que te dou você não sabe
mas é o sublime desta tarde
única verdade que sacia

o que te dou você não sabe
vai com o vento
vem com a sinestesia

você não sabe
mas invade
provoca
irradia

não sabe?

fantasia...

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Poço sem fundo - um Biografema

Sangue. Foi da dor que eu nasci. Não apenas da minha mãe. Da dor da minha mãe. Da minha dor. Um machucado na testa aos 3 anos de idade. Também foi dali que meu pai nasceu para mim, com seu primeiro cuidado da filha machucada.

Havia um menino mamando nos seios de minha mãe... e ele era meu irmão! Doeu também... Mas a dor sempre passa... Ao menos, têm passado.

Dores do passado, dores que tenho passado, dores que passaram.

Tenho nascido, e aprendido! com as dores.

Dançando e cantando. Há a alegria! A arte! A liberdade! Ainda menina, bem cedo, já era o que me encantava, me embalava. Era menina. Era a própria alegria. Da inocência que dança, da pureza que canta. Dançava, rodopiava, piava, cantarolava, para ninguém... para mim! para a vida!

Mudanças. Cidades. Muitas caixas. Caixas de lembranças que ficaram para trás. De amigos, de escolas, de casas. Caixas do nunca mais. Caixinhas dentro de outras caixas dos meus eus encaixotados. Caixas extraviadas. Caixas arregaçadas. Quanto peso para carregar na memória, quanta perda para suportar o coração. Quanto alívio o voo, a fuga!

Mudanças – do eterno devir – andanças.

A letra. O desenho. As leituras: começo de uma grande aventura.

Imagem, imaginação, viagem. O nascimento de um novo mundo, e este, do amor entre eu e o mundo. E então as cores, as formas, as palavras. Ah! quantas profundezas que saem do papel – poço sem fundo. Vi minha vaga imagem como num reflexo dentro do poço – e esta, também era sem fundo. Sem fundo e sem fundamentos. Carregava por vezes tormentos... Mas era bela, porque também era o Mundo!

Bebo e vivo da água deste poço, que gota a gota, inesgota minha insaciável sede de ser.

Foi do sexo entre o nascimento, a dor, a dança, o canto, a mudança, a letra e a leitura que pari a filosofia. E Desta, a poesia. Não haveria como dizer o indizível. Mas houve como cantá-lo. Como desenha-lo. Como esboça-lo, borrá-lo, esculpi-lo, inventá-lo. Não houve como pega-lo. Mas houve como sussurrá-lo.

Vozes

Escutei você.
Pensa que foi fácil?
Não, não é fácil silenciar minhas vozes
minhas vorazes vontades falantes
minhas tagarelices do desejo meu.
Mas ontem eu escutei você.
Havia um silêncio em mim.
Um certo cansaço de minha voz
de meu, de eu, um tédio d'eu.
Escutei você - música estrangeira -
e percebi que só escutando você
com tudo que você tem a dizer
incluindo o não dito
é que haverá nós.

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Perigos do filosofar

Karl Jaspers adverte:
Filosofar é perigoso!

Não por causa das verdades alcançadas
que são sempre provisórias
mas pela busca incessante que se empreende -

"Quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem,
escuta o que ele diz,
observa o que ele faz
e se interessa por sua palavra e ação,
desejoso de partilhar,
com seus concidadãos,
do destino comum da humanidade."

e esse olhar para dentro de si
e para o outro
pode gerar grandes riscos!

Arriscar ou não arriscar?
eis a grande questão!

(Karl Jaspers, Introdução ao pensamento filosófico)

Balão Cativo

Pedro Nava me cativou
em seu Balão Cativo
me levou:
acima dos morros
do Imperador e do Barro Vermelho
sobrevoando a Serra do Curral
e o Engenho Velho
com suas infinitas memórias
viajei longe...
Infância, quintal, frutas,
animais, família, casas,
dores, solidão, alegria,
escolas, amigos, lições...
para sempre lições das aulas:

"Era a verdadeira viagem
sempre começada jamais findada..."

(Pedro Nava, Balão cativo: memórias/2, 1973)

sábado, novembro 27, 2010

do Silêncio

Dos amores não amados
o que fica destes desaventurados?

e das dores destes amores
o que fica que ainda sejam flores?

Destes amores que bateram
- e muito forte -
n'algum peito de triste sorte

mas que apodreceram
tal qual em leito de morte
o que lhe trouxe de desagravo?

foram estes os calados
os sufocados
os abortados
e até os suicidados

amores que não puderam amar em ato
nem em carne
amores de sonhos primaveris
de luares e risos

amores do sublime
sim, do sagrado
pois não foram com a carne contaminados

amores bem amados
no silêncio profundo
que com as palavras soluçaram

quarta-feira, novembro 17, 2010

In-certezas

Sonhamos juntos
cada qual em sua razão
tão cega
seus caminhos turvos
passos incertos

Mas o sonho
esse
permanece lúcido
sóbrio
soberano

acima das montanhas
coroa em nossas frontes

Ele - que seria o devaneio -
é então
a única lúcidez

Não sabemos para onde rumamos
nem ao certo
o que será de amanhã

Mas nitidamente temos o sonho -
os nossos desejos
sabemos muito bem
o que sonhamos -
mesmo sem saber o que queremos

sexta-feira, novembro 12, 2010

A pressa...

o que essa pressa faz com a gente, não é mesmo?

nos afoga, nos atola, nos enrola

tudo porque agente quer mais rápido

não sabe esperar

como se fosse uma incerteza absoluta

o que virá

nos apressamos com medo

de perder ou de não ter

arrancando do pé o fruto ainda verde

nesse nosso intangível querer

Montanhas

Novamente me espanto:

saio de campo
vou pro meu canto
solto meu pranto
penso um tanto
faço meu canto

e depois?

depois me levanto!


ex nihilo

Expectativas
que expectoram
as ânsias
diante do que foi inventado -
pura ilusão.

basta um novo olhar
ou um acordar
para descobrir
que aquilo não existe

o que existe
é o que foi criado -
certo ou errado?

novamente o nada
a mostrar que dele
tudo provém...

quinta-feira, novembro 04, 2010

Silêncio

Eu não vou mais gritar

Não vou nem mais falar

Para quer você me ouça

Eu vou me calar

Pass

Caminhos tortos
que me torturam
e me trituram:

traço
um novo
passo
do passado
ao porvir

Devir

Tudo muda:

me emuda

Re-Criando

esquece
embaralha
reordena

mistura
desfaz
condena

estremece
esconde
inventa

e aí aparece
o novo:
eu
e você

Aliviando

É um caso sério
o eterno achar
o intranseunte querer
esse sempre pensar
de que se tem poder

que está certo
que a consciência
pode tudo
que a essência
percebe tudo
que a vidência
decifra tudo

Cuidado!
esse é o caminho obtuso
da loucura

sexta-feira, outubro 29, 2010

Do haver avencas - para Caetano Veloso

Dos seres existentes
em um cosmos vivente,
há as grandezas e as sutilezas
as grandes abóbadas celestiais
aos mínimos detalhes superficiais.

Basta lançar um olhar ao céu
e contemplar o sol
ou apenas olhar para baixo
ao seu redor.

Pequenos pássaros a comer frutinhas
gramas, flores mini, plantinhas
e essas são as proximidades
do haver avencas.

Pequenos insetos, joaninhas
num detalhe, num canto
num jardim, eu me espanto:
quantas sutilezas!
imperceptíveis aos olhos
que só buscam grandezas.

Mas se meus olhos se abrem
percebo o detalhe
contemplo a minuciosidade
de tão belas criaturas -
que me aguçam a sensibilidade.

Vi-Ver

Sofro da dor do mundo:
da dor dos abusos
da dor das crianças
das mães
dos pais
e dos avós
sofro da dor dos desempregados
e também dos escravizados
dói-me a dor dos desamparados
dos rejeitados
dos escarrados
dos excluídos
dos doentes
dos abandonados.
dói, cravado no meu peito
a miséria, a fome e a morte indigna
por elas causadas.
Porque viver
tem a dor de vi-ver...

quinta-feira, outubro 21, 2010

Tem razão

Sim, você está com a razão!
Está cheio de razão.
Aliás, tem toda a razão do mundo.

Ainda que toda esta razão que você carrega
bem como toda a razão humana
seja apenas e meramente uma
ínfima porção do que seja a vida...

segunda-feira, setembro 27, 2010

Sonhar é preciso!

Permitir que os sonhos aconteça
sem que fira ou invada quem quer que seja

Deixar os sonhos constelar
todo nosso imaginário
para então desabrochar

Jamais deixar de sonhar!

Inspiração

Às vezes

basta-me o silêncio

para que me aconteça

toda a poesia...

segunda-feira, setembro 20, 2010

quinta-feira, setembro 16, 2010

Mania de limpeza

Ela me disse que bota veneno
nas plantas, nas paredes, até na mesa
pra afastar os peçonhentos
ela quer a roseira
inteira
o baleiro
enfeite
o terreno
limpo
sem plantas
e sem insetos
nem folhas secas caindo
ela quer cada coisa no seu lugar
e tira o lugar das coisas -
ela bota veneno em tudo:
coitado do seu coração!

Mal estar

Bulimia
é o nome que se dá
para aquilo que não tem mais lugar:
o indigesto.
e então vomita tudo.

Desformatado

Pensar
dá forma

mas deforma

falar
informa

mas transforma:

muda-se a forma
daquilo que não tem forma

- vou varrer as folhas do meu quintal...

Letra e beleza

E vem a fome
e me consome
e some

e brota a palavra

e vem o sono
e me deixa bobo
e caio de rolo

e nasce a palavra

e surge a dor
o amargor
a perda de calor

e lá está a palavra

come a desilução
a traição
a rejeição

e eis que brota a palavra

a palavra faz beleza
dá delicadeza
refina a tristeza

e então aparece
a poesia!

Entrevado

travado
trafega
fogo
e engasgo

cavalga
gastura
grunhidos
trôpegos

trapassa
vadio
o vasto
vazio
que vacila

no escuro
tosco
do entre
as trevas
amargas


terça-feira, setembro 14, 2010

Vital

sobre

por

o

viver

sobre

o

sobre

viver

30

Ah, esses nossos trinta...
trinta anos
que ando
nas trincheiras
de abismos
trinta
que trinca-me
a vida
as veias
que me trazem
a idade
os cabelos brancos
surgindo:
coroa prateada
da majestosa
maturidade

domingo, setembro 05, 2010

Freier Geist II

Eis que então
exorcizando predestinações,
determinações, classificações,
maus-olhados, invejas, ciúmes, estrumes por sua cabeça,
má-vontade, impiedade, ingratidão, rasteiras,
contendas,
execrando a falsidade,
a mentira, a hipocrisia, a má-língua, a disputa,
enxotando o encosto, o escárnio, a malvadeza,
e todas estas coisas rasteiras e humanas
descobriu-se livre. E também má e boa, e também aquilo que quer
descobriu-se outra
mais altiva que toda aquela tinta suja
com que fora pintada pelos que a querem mal
soube-se bela e especial, triunfante em seu pedestal
banhada pelos raios divinos
que nela habitam
como em qualquer outro ser sideral.

sobre o Espírito Livre (Freier Geist)

Sofria pois
de uma dor virtual
seus olhos quadrados
e sua boca a teclar
se dabatia num tic tic ta
de dar dó.
era tarde e queimava o velho sol
cintilando nas folhas, gramas, nuvens e meninos
todos lá fora
vivendo na doce alegria da vida ao vivo
enquanto ela
aprisionada na tela
nas teclas indecifráveis dos códigos das gentes
esvanecia-se em dores internéticas
com a pele pálida e as olheiras pretas
em busca de seu amor
virtual...
e foi num último suspiro diante de tudo aquilo
que olhou pela janela
e viu um avião cruzar o céu-ar
o sol se deitar
as luzes se acender
sentiu um algo estranho de vida viva
um frio na barriga, na espinha
uma alegria no coração que palpitava
diante daquilo que se descortinava:
era livre
e tinha uma vida inteira de vida-gozo
vida-cheiro, vida-corpo
vida-de-gente
que apesar de todas aquelas labrirínticas prisões
correntes e tapumes
que lhe impuseram até então
através do medo, desconfiança, julgamentos, convenções, moral
e parafernalhas mil
ela sobrevivera
conseguira levantar seu voo
imprimir seus sentimentos profundos
seus afetos e afeições
até mesmo seus sonhos e ilusões
admitindo para si mesma ser aquilo a vida-viva
sem regra, bula, norma, mandato, leis, chaves e cadeados
sem ter que ser como tal
à força histórica dos costumes
fatalidades, regimes e necessidades
descobrira sim, como quem descobre um segredo inviolável
que era livre
e desde então decidira fazer de si,
desse si que é a própria vida,
um lugar de passeio, de beleza e de amor,
apesar de toda a dor!

sexta-feira, setembro 03, 2010

dia de descanso

Tudo o que
eu quero hoje
é ver o dia descansar
deitar minha cabeça
e adormecer
para amanhã
um novo dia
despertar

Transfiguração da alteridade

Quem é o outro
até que eu o olhe
até que eu o encare
até que eu o penetre?
o outro,
é apenas o outro...
Mas,
quem é o outro
olhos nos olhos
sentido, falado
depois de tocado?
quem é o outro?

sábado, agosto 28, 2010

Zelo

Vou trancar a porta

do meu peito cadear

colocar uma placa avisando

que pra entrar

é preciso respeitar

Contrato

Será que na constituição

existe o direito

de se por medo

á um coração?

HaH

Um susto

de repente

um muro

acertou meu coração

que do céu

foi ao chão

O horto

Numa tarde de sábado
fui ver a primavera
saí de casa com uma mala
levando frutas e a quimera

foi nessa mesma tarde
que percebi quem eu era
vi cores e tons
estranhamente minha aquarela

Os pássaros voavam
rondando a atmosfera
coelhos, patos
e aquilo que não se espera

Crianças sorrindo
brinquedos, cataventos
balanços subindo
a leveza do pensamento

Vi também dois macacos
conversando com dois meninos
que de dois viraram quatro
dando banana aos pequeninos

Era um parque (ainda tinha)
numa cidade clandestina
dentro dela uma menina
a sonhar que existia


U Zotru

U zotru
num sabi
u zotru
num intendi
u zotru
é u zotru
mais i si
u zotru
é agenti?

sexta-feira, agosto 27, 2010

Gotas

Foi gotejando
gota em gota
que me descobri
amando

também em gotas
me vi chorando

pinguei fora
goteira em mim
gotas da minha aurora
gotas que não tem fim

goteja o coração
goteja de suor
gota da minha dor
da dor que é maior

e então espremi
o meu peito aflito
e o que saiu?
gotas do infinito!

quarta-feira, agosto 25, 2010

Eu?

Sou aquele ser
cujo ser
é sentido
cujo ser
é imprevisto
malvisto
bemquisto
ser impreciso
precisamente
demarcado
em mim!
mas "mim"
sou eu
e eu
sou
o que
não sou.
não sou.
não sei
não seu
meu eu
não meu
nem teu
nem eu
sem eu
sou eu.

Uma graça

Senti uma coceguinha
por dentro de mim
não sei bem se na barriga
ou no entremeio
do esôfago e o estômago
(sutilezas daqui de dentro)
mas é que ouvir certas belezas
faz-me sentir esse prazer
quase do riso...

Vãs palavras

Pois que a linguagem
sai da língua
e não do coração
tremula, enrola,
vai até à mão.
Mas que,
trabalhosamente
se esforça
em traduzir
a emoção.

Sonhando

Bem que pudera sonhar!
e sonhando
voar
simplesmente
não estar
nem aqui, nem lá
mas aonde quiser
sem se materializar.
Bem que ao menos
pudera sonhar -
sonho:
libertação do meu estar

Oração

Nossa relação
só se torna possível
quando o divino
que há em nós se encontra
e então faz-nos
capazes de mais

sexta-feira, agosto 20, 2010

No trânsito

Não tenho pressa:
dirijo um fusca!
O meu trajeto
é passeio
é paisagem
é miragem!
O meu trajeto
é também
hospedagem.
Já estou aonde
gostaria de estar-
vivendo!
Que viver,
é passagem!

Presente

Quis trazer a flor mais bela
para colocar aqui neste vaso
quis pegar o brilho das estrelas
para iluminar este seu momento
coloquei até o meu próprio coração
para que isto ganhe tua dedicação
porque há muito beleza pra ser cantada
vivida, compartilhada e até mesmo falada
trouxe-lhe uma canção,
um olhar,
um abraço com emoção.
Está aqui
uma fagulha de toda a grandeza
que quero lhe dar:
uma poesia!

terça-feira, agosto 17, 2010

Ene A O Til

Com você não!
não dá
não desce
não vira
não vinga
não cresce
não entra
não guenta
fenece
não,
não dá!

vê se me esquece!

Escorpião

Eu sou mesmo

infernal

temperamental

se eu não gosto

vai mesmo mal

vira um caos

abismal

é fatal

venenosamente

mortal

Nada II

Foi sentada ao sol
tomando um café amargo
nas primeiras horas da manhã
que me pus a pensar
no Nada!
Quão vasto é o Nada
como ecoa em mim
ao meu arredor
como se faz presente
quando meu pensamento
vaga no vazio
sem propósitos
nem objetivações
apenas deleitando-se
no momento presente.
O Nada é a ausência de pensamentos
de tormentos
e por ser assim
também não o quero pensar
não quero materializá-lo
porque ele pode me corroer
à angustia de sabê-lo..
deixo o Nada
ser apenas
nada.

domingo, agosto 15, 2010

Uno

Apesar da nossa

extrema unidade

continuo vivendo

minha vida

sem você

Panta Rei

Era uma lépida angústia
que as vezes me possuía
rondava-me pela casa,
no banheiro principalmente,
simplesmente por..
viver!
Quanta inevitabilidade,
imprevisão e,
ao mesmo tempo,
necessidade.
Como, surpreendentemente,
muitas coisas
precisavam acontecer.
Eu não poderia evitar,
não me era possível,
e, secretamente,
talvez nem quisesse.

sexta-feira, agosto 13, 2010

Rio Tavares

Por causa de algum Seu Tavares
deram o nome pro rio
rio que por longa data existiu.
Braço do mar
deitado no mangue
habitat de tantas vidas
que cresce, se expande.
Mas o rio,
como recurso dessa Terra explorável
também já têm sua sentença:
esgotos, aterros, múltiplas invasões
visto como algo sem vida
que atrapalha as urbanizações.
O que lhe espera é um novo curso
para suas águas - um projeto bem moderno:
ser rede de esgotos!

E continua (inspirado em Clarice Lispector)

Nossa história será assim:
sem fim.
Uma página a cada dia
a cada dor
a cada partida
uma nova página pra contar
cada sutileza da vida.

Segredo

O que é essa angústia

que me aperta?

um algo mal compreendido

misturado com minha

infinita vontade de ser...

Sem dúvida

Não quero achar nada.

Quero saber.

Por isso, abstenho-me

por enquanto.

quinta-feira, agosto 12, 2010

Ia

Eu

ainda

andando

ia

amando

Em casa

-Mãe, que que é agora?

- Agora? Brincadeira lá fora!

- E depois?

- Feijão com arroz!

Um livro

A vida é uma história

para ser escrita
lida
criada

para ser re-escrita
re-lida
e re-inventada

Filosofia para Crianças

E ele me perguntou:
- o que é o além?
não sei meu bem.
o que eu sei meu querido
é que somos bem pequeninos...

Giz

Foi com giz de cera

que colori o meu dia:

textura

odor

e fantasia

Minha criança

Com seus negros olinhos
ora a me olhar
ora a sonhar
Sons e fantasias
emite de suas brincadeiras
e eu de rabinho de olho
e orelhas em pé
a lhe contemplar-amar

Minha loira

Seus cabelinhos
fios de ouro eram
tecidos pelo Grande Artista -
o Papai (do) céu!

O Gato

Era pois
um gato muito estranho
gordo
moribundo
vivia pelos cantos:

sempre a me espreitar!

Som

Precisava silenciar

as vozes aqui dentro

Para então contemplar

um novo silêncio

silêncio meu

e então ouvir

a canção da vida

quarta-feira, agosto 04, 2010

A Letra

cartas
poesias
lidas
relidas

imaginadas
sonhadas
debulhadas

quão profundo
em minhas entranhas
penetram as palavras

sentidas e pensadas
fazendo-se carne
e alma

Origami

as suas dobraduras

me chegam como aventuras

pra que eu possa abrir cada dobra

e me surpreender

com o belo origami!

domingo, agosto 01, 2010

Coração partido

Agora

eu descobri

o que é doer

o coração

mas doer

de verdade

é quando um filho seu

parte


porque partir

faz parte

da vida

Nada

Fui
voltei
dei a volta
retornei
fui de novo
já não sei
por onde fui
por onde andei

ganhei
deixei
compliquei
tentei
mais uma vez
repensei

fui novamente
retornei mais complacente
aprendi sendo inocente
perdendo a inocência
eternamente

já não me sei
por que fui
por que andei
também não sei
por que fiquei
já não me sei
por que também
já não sabia
o que doeria
o que encontraria
o que perderia
e o que ganharia

hoje
não sou nada
não tenho nada
nem mais inocência
nem mais infância
até as dores
já não as tenho
não as quero
já não quero mais

hoje
sou nada
e isso me satisfaz
com tudo que andei
tudo que ganhei
o tudo que chorei
e sonhei
me ensinam
que nada serei
que nada terei
que nada sei

hoje
o nada foi o que herdei!

Sem nexo

Este hoje
é o meu consolo..
as palavras
o estar em branco das páginas
o ler e reler
e ter sentidos
sentindo no peito
confusão
tropeços
angústias
mal momento
que pra vida
pede tempo
pra ser vida
vida que se viva
com a liberdade
do escrever
no que está em branco
criar as letras
os nexos
inventar as histórias
de ninar
pra que ao menos nesta noite
eu possa dormir em paz
reinventar um riso
uma lágrima bonita
que do coração que flameja
brota
como pétala de rosa
que quer escorrer pra ser vida
me desculpe
as palavras corridas
as confusões de pensamentos
é tanto tormento..
é tanta falta de paz aqui em mim
que ao menos pelas palavras
eu suplico
um momento de compreensão:
ao menos contigo...
minha pobre poesia..

2?

há esse elo
invisível por debaixo
de nós?
temos mesmo essa ligação amorosa?
esse algo que
mesmo separados
corpos
os corações estejam unidos?
onde foi que te achei?
onde mesmo que te perdi?
onde estará o nosso tempo
tão sonhado momento
de fusão plena?

terça-feira, julho 27, 2010

Poeisa de Graças!

Deus
Deus meu
agradeço eu
pelo sol
que hoje me aquece
que ilumina o meu quintal
que seca as minhas roupas no varal

Agradeço meu Deus
pelo sol
esse grande arrebol
que nos faz vivos
fotossintésicos
que clareia a grande mole terrestre
produzindo vida
e límpidez

Obrigada
meu Grande Amor
minha total devoção
pela Criação
por cada criatura
por cada emoção
por cada molécula
que propaga
a energia solar.

Obrigada.

segunda-feira, julho 26, 2010

E se...

E se
o que é o bem
for o mal?
e se
o mal
for o bem?
e se
você não for
quem pensa ser
e se não for
feito do que acredita ser?
e se o mundo
é uma ilusão
e se não existe
nenhuma certeza?
e se o além
não existir
e nem o amanhã?
e se Deus for
bem diferente
do que você pensa ser?
e se tudo
que lhe ensinaram
for mentira?

bem,
ainda assim
lhe restará
a dúvida...

domingo, julho 25, 2010

Segundo tempo

Nesse jogo
sempre perdemos
perdemos
(e ganhamos com as perdas?)
paradoxo?
não sei
sei que sinto-me
derrotada
procurando encontrar
o sentido desse jogo

hoje entrego as cartas

não há poesia...

sábado, julho 24, 2010

Hoje

Ruas vazias.
Caminho pela noite com mãos no bolso,
cabisbaixa, pisando no chão molhado.
O som que ouço são gotas de chuva
e as batidas do meu tênis no chão,
ecoando pelas paredes das casas.
Olho para as janelas.
Vejo luzes acesas.
Gente acordada.
Televisões ligadas.
Computadores conectados.
Mas não vejo ninguém na rua.

Lá vem um cachorro. Ele late.

Era o barulho da folha com o vento.

Era o ruído do meu pensamento.

Por debaixo das nuvens a lua emana luz em sua maior capacidade de recebê-la...
lua cheia.

Faz frio. O cachorro ainda late.
Caçadas noturnas?

Como a lua,
meu coração inflama
como é bom caminhar pelas ruas

sentir a existência

perceber a grandeza

como é boa a vida
nesse aqui
nesse agora
nesse exato momento!

se
sinto
me

me
sinto
se

sem

você

quinta-feira, julho 22, 2010

A mim

Se o que resta
depois de tudo
é apenas
nós mesmos
contentemo-nos
em buscarmo-nos

a vida passa
as pessoas vão e vem
os momentos eximem-se

voam as folhas
os pássaros
os pensamentos

vão-se as alegrias
também as dores
e os tormentos

de tudo
o que fica
somos nós mesmos

sempre diferentes
afetados
transformados

que a beleza
não se perca
em meio aos juízos

bom ou mau?
não importa
importa que seja belo

não o que está fora
mas os nossos olhares

re-vejamos a vida
os arredores
os entornos

re-visitemos
as fotografias
as poesias

há sempre a beleza
escondida de nossos olhos
revelada com delicadeza
a quem dispõe-se a descobri-la

há sempre a beleza
e a vida se justifica
não pelo bem ou pelo mal
mas pela estética
transcendental

terça-feira, julho 20, 2010

Extra moral

Mentir

ajuda a

aliviar

os sintomas

da vida

Miséria

Do paraíso
formou-se um vale de lágrimas
Dos sonhos
Restaram os cacos
Do sorriso
o vazio
o eco
o escarro
Do olhar que
foi alegria
só dores e dúvidas
tristezas obscuras
assombrosas
criaturas
que perturbam
o doce
que era
Esse é o fim
impregnado de morte
e destruição
para aquilo
que não tem mais
solução

domingo, julho 11, 2010

Nós

Extremos
congruentes
que seduzem
revelam poentes
ora cá
por vezes lá
estar aqui
e não estar
quântica dissimulada
em matéria dura
e alma substrata -
toda misturada:
ausência e permanência
loucura e paciência
fórmula cruel
a nos revelar

sábado, julho 10, 2010

Intangível

Coisas

podem ser tiradas

com as mãos

pensamentos

e sentimentos

não

Sonho

Sonhar...
como é bom sonhar!
e ao acordar
descobrir-se ainda
sonhando
A vida é mesmo
um sonho
por isso tão bem representada
ao dormirmos..
é essa mistura de nós mesmos
com o mundo em que vivemos

quinta-feira, julho 01, 2010

Amor Fati

Que escorra pelos meus poros
o amor pela vida
que eu transpire
o gosto de existir
não sem saber das dores
dos perigos
e das perdas
mas que com tudo que é a vida
eu ainda sinta amor
esperança e alegria
que eu a aprenda
me transforme
me surpreenda
que com as guerras
busque compreender
com as tristezas
queira aprender
com as decepções
tente entender
quero a vida como ela é
com seus riscos e gozos
quero me ser como sou
o que se fez
o que se transforma
o que restou
e o tudo que ficou

Não saberia

Nunca imaginei
que ia chegar
onde cheguei
que as pedras em que eu topei
se transformariam
no que me tornei

não saberia viver
se não tivesse você
se não tivesse viver
não saberia você

não saberia dizer
quais os caminhos
por percorrer
que ia tão longe
tão fundo
me perder

não saberia viver
se não tivesse você
não saberia você
se não tivesse viver

Caminharia tão só
distante de mim
errante
falando sozinha
amante
do que não saberia
perder

terça-feira, junho 29, 2010

Perdição

Tormentos, torpores
atordoamentos
na tentativa de se enquadrar
se alinhar, se estabilizar
surgem tonturas
espasmos
sintomas de loucura
do gritante que há
que não tem forma
não segue linhas
nem possui chão
miserável é querer ser rico
ser isso ou aquilo
é querer vestir qualquer máscara útil
que garanta um espaço
ou status
nesse labirinto onipresente
muitos se perdem
se matam
adoecem
no baile de máscaras
ter que encontrar uma máscara
apenas no mercado da esquina
jamais num ateliê
ou fazê-la de barro
de sonhos, de pedaços
a máscara cai
e surge atrás
lágrimas de palhaço

Ouro

Jamais a riqueza me daria
o maior tesouro que conquistei:
- a sabedoria -
(de saber que nada sei)

segunda-feira, junho 21, 2010

Jaz

jaz
um estar
que me faz
mais

jaz
um lugar
que me traz
paz

jaz
um amor
que me
compraz

jaz
um som bom
que vem
do sax

jaz
uma música
chamada
jazz

sábado, junho 19, 2010

Coisinha

Numa flor da rua
numa paçoquinha
foi nessas pequeninas coisas
que me disseste
sobre amor

A criança minha

Quem dera ainda sermos
a criança que sonhamos
sem vícios, medos, bloqueios
que o riso fosse fácil
e o pensamento brinquedo

Fim de tarde

Do último veranico
que de maio veio a junho

sinto a quente brisa
a outonal despedida

algo de melancolia
do inverno se aproximando

Sobre dar

Não temas
ter que dar-me
aquilo que tu mesmo
não tens
Pois que do temer
o que talvez tivesses
já deixaria de tê-lo
e de merecer

De ti

De ti
nada quero
pois que do sonhar
já o tenho

Brinquedos

Como ainda uma criança
(pois assim sinto-me e quero-me)
Brinco com as coisas
que ao léu dos meus sonhos
são brinquedos:
um livro, um alimento,
uma vassoura, um argumento
dentro do meu sonho infantil
são brinquedos que me divertem
são castelos, construções,
histórias sem fim, nem começo

A Pedra do Caminho

Já de pensar

perco-me

Topo numa pedra

sinto dor

e recordo-me

Velha Des-conhecida

É essa outra desconhecida
quem me revela-me
a cada estranha reação
a cada inusitado pensamento

Conheço-me assim
como quem nunca se conhece
que a cada tentativa de aproximação
revela novas máscaras

Máscaras ou faces?
carnavalescas fantasias
multifacetando a mim mesma

Assim vou-me ensinando-me
que sou o que não sou
que sou o que não sei
e que talvez nunca saberei

Vou-me conhecendo-me nos esconderijos
nos por detrás
nos por debaixo

Levanto o véu de maia
e nada encontro que tenha forma
sou-me des-forme, des-conhecida, des-apropriada

Também sou o que não me espero
o que não me faz previsões
o que não me personifica

Sou e serei sempre essa minha velha desconhecida
que ora cá, por vezes lá
misteriosamente me surpreende

quarta-feira, junho 16, 2010

Será?

Ainda haverá tempo, esperança?
Ainda haverá entrega, bonança?
Haverá chance, mudança?
Seria possível recomeçar?
Seria possível reaprender a amar?
Poderá existir novos horizontes?
Novos caminhos, outras pontes?
Será?

quinta-feira, junho 10, 2010

A vida é bela! (olhe pela janela...)

O sol nasceu
e o dia passou a existir
os olhos se abriram
e eu passei a sorrir
o que eu vi
foi a vida tão bela
quanto pode ser
olhei pela janela
e percebi tudo crescer
flores sementes
pássaros gente
vi que tudo pode ser melhor
que o mundo pode ser maior
que eu e você
podemos ser um só

Vi que compreender
perdoar
tudo é aprender
aceitar
deixar ser

sexta-feira, junho 04, 2010

Navegar é preciso

Tomei o barco
assumi o meu remo
quero chegar ao outro lado

Conquistei o desapego
porque para cruzá-lo
Não se pode levar bagagens

Quis o risco
o caminho tortuoso
imprevisto

Não quero a estrada pronta
quero o rio
que sempre flui

Que nunca é o mesmo
eterno devir
desconhecidamente assustador

Maravilhosamente
libertador:
Sou eu quem navego!

Pacifico

Bem longe
desse barulho moral
distante do bem e do mal
do certo e do errado
do previsível
do esperado

Distantemente
do tribunal social
convenções...
pura invenções!
é mais adiante
mais distante

Um outro lugar
outra esfera existencial
fugindo da univocidade ditatorial
é do outro lado
na margem oposta
que está a paz espiritual

quarta-feira, maio 26, 2010

Tempo

Nosso tempo
é outro tempo:

É contratempo

Controverso
desconversa
converte
desinventa

Desencontro
contradito
tempo maldito
malvisto
imprevisto
cego

Tempo desordenado
ordenado às avessas
sem vestes
sem vez
vez ou outra
vai e vem

Vai com tudo
o que não tem
vai com pressa
sobre precipícios
onde não há volta
mas vestígios

Tempo perdido
nos ponteiros contados
contaminando
a noção do espaço

Passo a passo
passa a vida
passatempo
despedida
catavento
ventania
cataclisma
água viva

Cata o laço
cata o traço
tropeça
travestido
atravessa
o corpo
o conteúdo
traga tudo
que é mundo

Mudo.

Mudo.

sábado, maio 15, 2010

O Flamboyant

Meu objeto de contemplação
Esse algo que me inspira
É o que vejo pela minha janela:
Um enorme Flamboyant!

Flamejante Flamboyant
boiando pelos ares
galhos suspensos
transbordando serenidade

É ele quem me diz
sobre essa versátil-sempre-aberta-maneira:
ali no seu tronco mora um pica-pau
num buraco pequenino

Ali também vem re-pousar
aracuãs, gralhas azuis
e até urubus..
e luzes de natal

Ele é lindo
pura obra de arte divina
sempre aberto e pronto
para chuvas, ventanias, pássaros e até humanos...

Ventanias

quinta-feira, maio 13, 2010

Das Árvores

A brisa ainda fresca
que bafora em meu rosto
após ventanias minuanas
de longos dias

A linguagem muda
que decifro nas árvores
é uma versátil-sempre-aberta-maneira
de ser e estar

A ventania bateu
e curvei-me até o chão
folhas e galhos arrancados foram fora
mas novamente estou aqui na espera

Na sempre espera do momento
carregado de tudo que foi e de tudo que será
na aprendizagem da mesma
versátil-sempre-aberta-maneira

Só sei... que nada sei

Aquilo que se sabia
deixou de ser sabido
quando se soube
que nada saberia..

Aquilo que achava que sabia
Não era de nada sabido
Nem ao menos se soube
O que era sabedoria...

quinta-feira, abril 29, 2010

Dual

Sempre aos meios
pela metade vou sendo
uma que acorda
e a outra que permanece em sonhos
uma que é carne
e a outra intangível
um algo que eu me sei
e algo outro tão estranho
um sem começo e um também sem fim
um estar ao meio
pela metade do caminho
sem saber se cá ou lá
direita ou esquerda
boa ou má
lúcida ou louca
uma lua pela metade
que desconhece seu lado escuro
e talvez aonde está sua luz-cidez...
que outra face
uma segunda pele
uma nuca desconhecidamente minha que me acompanha
um interno do qual só conheço o sangue
nunca o além
mas que tenho certeza que há
que está constantemente aqui
do qual só conheço este instante
presente e espacial:
sou dual

quinta-feira, abril 22, 2010

Mais sobre amor

Cantos belos
aqueles que falam do amor
amor em suas infinitas formas e beleza
Pois o amor permeia tudo o que há
e fertiliza o coração dos humanos
Há o amor pela vida, pela natureza
pelas flores, e pelos rios
e há o amor dos amantes
o amor entre a família e os irmãos
mas há o amor ainda maior
o amor a tudo e a todos
o amor imanente
que irradia do grande centro gerador da vida
presente no ar, no sopro vital
presente em espírito
transcendental
Eis o amor capaz de unir
tornar todo o múltiplo em um só
E também o mais difícil
pois requer grande desapego
entrega
Eis o amor de que se falou
no velho Livro
e o maior ensinamento que recebemos
decodificado, inspirado divinamente
Um amor que requer dissolução do "eu"
do "meu", do "teu"
amor que atravessa as paredes, os muros,
as propriedades, as igrejas e as classes
Quem poderá conhecê-lo?...

segunda-feira, abril 19, 2010

Coroação


Grande esforço tenho feito
para aceitar tal qual brilhante
cada novo fio branco
que em minha cabeça irrompe e cintila
coroando-me com pingos de sabedoria


(imagem: Paul Gauguin)

quarta-feira, abril 14, 2010

Em um tempo


No tempo em que eu me vi
eu não sabia o que eu era

eu era aluna
eu era professora
eu era desempregada
eu era desutilizada

eu era mãe
eu era esposa
eu era separada
eu era juntada

eu era filha
eu era orfã
eu pilotava carro
eu pilotava fogão

eu filosofava
eu limpava o chão
eu criava coisa
e me desconstruía a cada dia

habitava uma construção quadrada
com portas e janelas
usava calça feita de jeans
e um par de tênis

bebia café
e comia enlatados
mas também colhia frutas
e cheirava flores

via filas de carros
filas de gente
filas de ruas, casas
filas de livros e letras

via muros
e via estrelas

nesse tempo eu era algo
de individual
que a tudo se misturava
eu não sabia o que eu era

talvez porque eu não fosse
ou eu era

eu era nada!


(imagem: Salvador Dalí)

terça-feira, abril 13, 2010

O que sou

Me deixaram ser

tudo aquilo que eu poderia

mas eu quis ser

apenas aquilo que eu era

Som, imagem e sabor


Quanta coisa despertou meu desejo
pelo nome que lhe era dado
e pelo meu imaginário

ao conhecer a coisa em si
e provar-lhe
um desapontamento
diante de algo
que não aguçara meus sentidos

nada de bom como eu via
nos olhos de quem dizia

Cat-chup foi uma delas
queria entender porque
se falava tanto sobre esse algo delicioso...

"Mãe, compra cat-chup?"
"mas, é isso cat-chup?"

Qual a metafísica do cat-chup?
O que há nele que eu não senti?
Apenas um nome? uma imagem?
Uma questão de mau gosto?

Quanto a linguagem nos ludibria
e quanto os sentidos nos revela!


(imagem: Edvard Munch)

segunda-feira, abril 12, 2010

Aquilo que há


Sem as explicações devidas

tudo permanece suspenso no ar

mas não há nada mais verdadeiro

que aquilo que se vê no fundo do olhar


(imagem: Leonardo da Vinci)

quarta-feira, abril 07, 2010

Criar a Ação


Procuro algo dentro de mim
algo que me saia
de forma crua
sem muita arquitetura
sem enfeites e molduras

Muito vi do erudito
pouco do autêntico
O que trouxe novos estilos
trouxe-o porque criou

Onde está a perdida arte de criar?
Como aniquilar a falsa maquiagem
que traz por trás a cópia?

Será necessário parar de devorar cultura?
Aprender a ruminar?
Digerir?
Ruminar e digerir
a cultura alheia ou a mim mesmo?
Como tocarei este instrumento?
Como soltarei a voz?
Como pincelarei as tintas?
Como encaminharei os dedos?
a caneta?

Que céu quero contemplar:
o céu já visto e dito
ou o céu como ninguém viu,
ou talvez viu e não exprimiu?

E que sentimento quero cantar?
O das novelas, dos romances?
Ou esses inauditos
aqui calados
aqui refugiados?

Quero esse meu desconhecido
Quero esse teu desconhecido
Quero o nosso que é só nosso
Que é novo
por ser tão antigo...


(imagem: Wassily Kandinsky)

terça-feira, abril 06, 2010

Cultivo


Todos os dias
ou sempre que podia
olhava para o céu
para contemplar o brilho das estrelas...
tão belas
tão reluzentes
e tão distantes

queria cultivar estrelas
em seu jardim

trazer aquele brilho para perto de si
mas não havia como capturá-las...
nem com fotos
nem pinturas
ou poesias

eram apenas para ser contempladas

cansou de não possuí-las
decidiu cultivar flores
em seu jardim...


(imagem: Henri Matisse)

quarta-feira, março 31, 2010

Des-pretensão


Não quero ser mais
do que sou

ser apenas
já é demasiadamente
suficiente...

{ou, basta-me
de ser por hoje...}


(imagem: Wassily Kandinsky)

São Paulo


Do caos ao cosmos
Do cosmos ao caos


Ó barbárie civilizadora!
Ó civilidade bárbara!


(imagem: Wassily Kandinsky)

terça-feira, março 30, 2010

Camélia


Camélia Camélia
Como tu és bela!

A lembrança das tuas cores
dos teus odores
são um verdadeiro consolo
para estes dias de outono

Ai Camélia
tuas pétalas tantas são
que beleza pro outono
que há em meu coração...

As folhas estão caindo
e o meu consolo és tu Camélia
a triste e doce lembrança
da minha Primavera


(imagem: Pablo Picasso)

segunda-feira, março 29, 2010

Retalhos


corte

recorte

costura

emenda

desfaz

pontua


(imagem: Pablo Picasso)

Logos


No princípio era o verbo

e da palavra brotou a vida

mas, sem querer tocar na ferida:

as palavras também podem matar!


(imagem: Pablo Picasso)

For


O vento passou
e continua a passar
O que virá?

As pétalas caíram
a roseira secou
O que brotará?

O riso deu-se
às lágrimas sucedeu-se
o tremor e o temor

O que será?


(imagem: Salvador Dalí)

O que se foi


fui sendo

algo que

me foge

quando olhei

não encontrei

o que tinha sido

havia passado

e o passado

perdido


(imagem: Salvador Dalí)

sexta-feira, março 26, 2010

Paradoxo


O impossível se apresenta
na impossibilidade humana
de acreditar nas possibilidades

A tristeza arrebata
o coração que não mais crê

Ao coração fiel
brilha ao fundo a esperança
mesmo diante de uma tristeza
que sempre provisória

A tristeza nos aprimora
é viva alquimia para a alma e o coração

Com as alegrias
sempre as dores
e com as dores
a alegria

Intrincável paradoxo
da nossa vida


(imagem: Salvador Dalí)

quarta-feira, março 24, 2010

Jazz


Como uma menina
ela brinca
sorri
esquece
se diverte
A brincadeira
é dançar
deixar fluir
ao som
no ar
Soltar o corpo
simples
com as notas
musicais
ao ritmo
instrumental
bateria
baixo
teclado
guitarra
sax
Deixa rolar
tanto faz
o momento
agora
com paz
e alegria
hoje é o dia
de viver
ser você
me ser
ao som
do Jazz


(imagem: Wassily Kandinsky)

Infância


Éramos crianças

e brincávamos

sentados na areia

Teu peito nú

era liso e suave

acolhedor

ao se conversar

ao se estar junto

E era isso

o que importava para nós

Estarmos juntos

a brincar

a conversar

Apenas a estar juntos

sentados na areia


(imagem: Pierre Auguste Renoir)

Fragilidade


Dias frágeis
Que se quebram
Como cacos
Deixam-me aos pedaços
Com o coração apertado

Dias frágeis
Que tornam-me forte
Transparecendo as dores
As deixas
A morte

De onde renasço
Com novo semblante
Saio do ovo
Após sentir
A dor do parto

Dias frágeis
Mais que sentimentais
Realça o verde
Arregaça a dureza
Da pedra, do podre
Da áspera parede
Que há entre nós



(imagem: Pablo Picasso)

sexta-feira, março 19, 2010

quarta-feira, março 17, 2010

Precisa Se

Preciso

Da palavra

Precisa

Sobre Odores

Já ouvi dizer que o cheiro do café
é considerado o melhor cheiro do mundo...
Também gosto muito do cheiro das flores
Do mar
Das plantas
Da terra
Mas para mim o melhor cheiro que há
É cheiro de filho!

quarta-feira, março 10, 2010

quinta-feira, março 04, 2010

Corporeidade


O corpo
é o casco
é a carapaça
é o condutor

É a carruagem

O corpo
veículo do sonho
Do desejo
da vontade

Vivificação material
do que arde

Causa
do efeito
Feito
de caos

Casaco nú
da conspiração
do irreal

Corpo que queima
Corcundo
e teima

Coincide

Confunde

Permeia

Corpo de pó
de cinza
Corpo
de areia


(imagem: Tarsila do Amaral)

Sobre Maturação

As crianças

cresceram

Lembre-se de crescer

você também

Sobre o Feio e o Belo

De nada adianta

a roupa mais bela

Se quem a veste

belo não o for

Até a mais simples

das roupas

Bonita fica

Se a beleza

de quem a veste

se transpor

quarta-feira, março 03, 2010

Suli


O vento chegou frio

Ventando lá do sul

Cantando ventanias

Deixando o céu azul


(imagem: Pierre Auguste Renoir)

Pôr do Sol

A cada troca
Uma trovoada

Relampejos em disparada
Cantando pela vida

Dia em noite
Noite em dia

Calor em frio
Frio em calor

Quanto sonho
Quanto despertar

Quanto ardor

Calafrios em versos
Amenas intempéries

Calavancos robustos
Que com a escrita fere

Isso tudo me inspira muito!

Antes

Antes que se chegue a ciência dos humanos
Bem antes que amanheça o dia
Antes do meio-dia
Que se dê as doze badaladas

Antes que pereça a noite
No mistério soturno da imensidão
Imersa nos delírios negros
Parte profunda da escuridão

Enquanto os astros reluzam
Pairando enfurecidamente em órbita
Mergulhamos no incandescente mistério
Da vida e da morte

Não há ciência ainda
Nem graves tecnologias
Há um vácuo profundo
Preenchendo todos os cantos com poeisa

Lugares cheios de nada
Tão repletos de ser
Tornados abstração infinita
Do vir-a-ser e perecer

segunda-feira, março 01, 2010

Um Coração

Hoje meu coração está flácido...
Sinto-me frágil e sensível
como a superfície de um lago...
Que tudo recebe,
que tudo percute
Que se comporta de acordo com as intempéries,
que se molda conforme o espaço,
que esquenta
e esfria
conjuntamente com o calor recebido,
que fica azul, rosa, preto,
reluzindo as cores do céu,
que se mantém vivificado com o cuidado
e adoece
com o descaso.

Sinto-me com um coração de gelatina
que ao toque desatina
que com o frio congela
e com o calor excessivo se derrete
Mole,
desajeitado,
vermelho
tudo isso guardado aqui
em meu peito
Como se fosse um vulcão
que com o carinho
entra em erupção
e com o esquecimento...
adormece em solidão.

Quem Sou?

Sou o que sou...
e Tudo o que deixo de ser
Sou um pouco do meu pai,
um pouco da minha mãe,
e sou também parte de meus amigos
Sou uma criança
Mas também posso ser gente grande
Assim como sou uma mulher,
mas tenho um coração de menina
Sou triste por muitas vezes,
sem deixar de ser a alegria de viver
Sou também contente,
mas carrego a angústia da existência em meu peito
Sou tudo que já fiz,
e tudo que deixei de fazer
Sou o amor que recebo
e o amor que deixei de dar
Sou humana, sou galáctica,
mas também sou um animal
Sou mundana,
mas por vezes transcendental
Sou minhas palavras e sou o que escuto,
mas também sou o que calo
Sou filha e sou mãe
Sou inteligente
mas também sou ignorante com limitações
Sou livre
Mas vivo presa em meus pensamentos
Sou tudo isso,
e ainda assim percebo
que não sou nada...

domingo, fevereiro 28, 2010

Sendo

Você me disse que tentava ser

E eu fiquei a pensar

O quanto já é em tentar

100 Razão

Como pode
Da ínfima matéria
do lápis à atmosfera
Tão grande flor desabrochar?

Como pode arder tanto em meu peito
Ao qual não tenho direito
Transcendente sentimento
Vir aqui se atracar?

Como é possível
Sobrevoando rios e barrancos
Matas, cidades, prantos
Tão distante pulsar?

Como pode
Qual chama acesa
Incandescente estrela
Tanto queimar?

Como pode ir e vir
E ainda resistir
Outono, verão, primavera
Toda estação perdurar?

Inexplicável é
Como o pairar dos astros
Tal qual o sopro de vida
Assim é...

Sem explicação
Não há razão
Ela que é tão pequena
Diante do coração

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Mais do mesmo

Não sei o que é o amor
Talvez nunca saberei
Visiono apenas frações
Fragmentos desse grande Ser

Ele é um pouco do vento que sopra
De um pássaro a voar
Um pôr do sol
Uma folha a rodopiar

Tem também na flor que desabrocha
Num sorriso sincero
No fogo, numa tocha
Naquilo que espero

Um arco-íris pode me dizer sobre ele
As ondas incessantes a ondular
O rio que corre, a lágrima que escorre
A profundidade de um olhar

Ele é aquele algo que não se denomina
Não se detém
Não se aprisiona
Nem se apropria

É livre
Leve
Lindo
E singelo

Como a flor
Como o pássaro
Como as águas
Como você

Fazendo Arte

Entrecruzo versos

Faço cálculos poéticos

Talvez desvendo mistérios

Ou, quem sabe,

Confundo impropérios

Teço uma colcha de retalhos

Ou um mosaico

De corações despedaçados

Não sou adivinha

Menos ainda matemática

Só um pouco artista

Tentando dar mais beleza

A esta vida

domingo, fevereiro 21, 2010

De Dentro do Ovo

Para aquele que conseguiu
Parar de olhar para o próprio umbigo
Óh! Quantos olhos a nos espiar!

É tudo tão mais vasto
Tão maior do que se imaginava
Tão vago
Incerto
Múltiplo

Tão diferente de si
Obstante do próprio espelho
Até mesmo assustador

Não há controle!!! (um grito de desespero se ouve)

Vejo feixes de luz
Por entre a casca do ovo
Que se rompe

Secreto

Não mais tarde
Enquanto dura
Quanto valha
Esta hora absurda

Em transformar o abstrato
Em concreto
O pensando
Em verso

Como um parto
Do invisível
Que sai das entranhas
E morre escorrido à terra

Proferido
Ganha-se vida
Para tão logo
Esvair-se aos ouvidos

Aos que ouçam
Que toque
Aos surdos
Lamentos

Que seja um segredo
Conquistado ao decifrar-se

Muda

No fundo do olhar

O profundo:

Todo o mundo

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Poesia?

Poesia não é enfeite
É necessidade
Não é perfume
É essência
Não é vaidade
É inverso

Poesia vem de uma vida filosófica
Que busca incessantemente o ser
E ainda não o encontrou

Poesia não é arma de sedução
É suspiro do seduzido
Não é artifício
Nem bengala
É forma de ver
É o próprio chão

Não vem de fora para dentro
Vem de dentro para fora
Não é passatempo
É a própria vida
Que passa

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

E Agora?

O carnaval acabou
A máscara caiu
A fantasia rasgou

Foram tantas máscaras e fantasias
Que já não se sabe mais
Qual a verdadeira face
Se já se soube algum dia...

Agora é hora
De voltar para a dura realidade
Todos os palhaços
Foram embora do salão

Se está sozinho novamente
A folia acabou
A grande festa a fantasia terminou

A realidade é muito mais sóbria
Onde estão os foliões?
Como disse Pessoa:
"Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge."

Cada um retornou ao seu mundo
Tão cruelmente individual
E o que sobrou?

Vãs fantasias...
Fugazes euforias...
Talvez esperar
Pelo próximo carnaval

sábado, fevereiro 13, 2010

Se Fosse

Penso

Como seria se fosse...

Se fosse

Seria como?

Como é

Como não é

Como não sei

Não sei se seria

Se fosse

Ah... Se fosse

Seria sem saber como

Como não saber se seria

Seria sem saber

Não saberia

Se fosse

Mas não é

E só fico a pensar

Como seria

Se fosse...

A Dança

É nesta dança que eu vou...

Fecho os olhos

Deixo a música penetrar

Meu corpo

Meu passo

Quero apenas dançar

Esquecer

Todas as dores

Todas as partidas

Todas as dúvidas

Dançar

Como se mais nada existisse

Pelo menos agora

Difundir-me ao som

Sentir-me ao fundo

Integrada neste momento

Eterno

E eu apenas uma partícula a vibrar

Com as ondas sonoras

Que me convidam

Me levam

Me embalam

Na dança da vida

Bateu

Veja o vento que passa
Sinta o vento que bate

Não basta passar
Tem que bater

Agitam-se as folhas
As águas ondulam
Veja! é o vento
Que passa...
Que bate...

Mas não basta passar
Ele teve que bater
Nas folhas
Nas águas
em mim

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Sobre Jogos

Pedaços que deixo
Que me desfaço

Caem
Arrancam

Mordem
Estraçalham

Estou sempre a me despedaçar
A deixar partir

Sem mãos para segurar
Apenas no coração devem estar

Se vai
Que vá

Se querem levar
Não vou brigar

Quero apenas
Aquilo que não se segura

Não se detém
Nem se possui

Quero a essência nua
De vaidades, jogos e trapaças...

Mix

No fundo do estômago

Não há distinção

Mistura-se a ira

Com o macarrão

Eternidade

O adeus

Só não pode se dar

À Deus

Simples Equação

Numa equação

Uma grande lição:

Cada um dá

Aquilo que tem para dar

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Entre Mortos e Feridos

Hoje estou sozinha
E magoada
Em meio ao tiroteio
Fui acertada
Paguei caro
Pelo que não era meu
Paguei com alegria
E lágrimas

Embaçado

Preciso do meu óculos para te ler
Mas quase não dá para ver
De tanto que eles embaçam
Com essas gotas molhadas
Que saem sem eu querer

O Tempo...

Novembro, dezembro...
Talvez em janeiro..
Mas, se não der
seja quando Deus quiser...

sábado, janeiro 23, 2010

Sei

Sinto

Sofro

Sempre

Sábado

Ou só

Ou sem

Eu sei

Sou eu...

Sobre idas e vindas

Eu sabia
Que você tinha que ir
Que iria partir
Mas fiquei a sorrir
A esperar
A abrir
Meu coração
Porque eu sei
Que você sempre haverá de vir...

Do Fundo

O que me inspira

É o profundo

Mergulhar no fundo

De todo esse mundo

Que é você

Por trás de tudo

Das vozes que ouvi
Pouco escutei
Escutei muito mais o que não ouvi
Disparos intuitivos
Percepções atordoadas

De muito percebi
Aquilo que se escondia
Distantemente das palavras proferidas
Máscaras e fantasias
Teu rosto nu vislumbrei

Nesse dia chorei
Uma dor do intocado
Do não dito
Não falado
Disfarçado

Tentei me enganar
tentaram não mostrar
Cheguei a acreditar
Que era louca
Brincando de adivinhar

Mas era tu
Em tua beleza real
Sem regras e roupas
E prefiro ainda hoje acreditar
Não naquilo que me disseram, mas naquilo que vi

terça-feira, janeiro 19, 2010

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Ociosa

Escrevo para afastar

O vazio

O medo

Do nada

Do vácuo

Do ócio...

Nego o ócio

Faço negócio

Que negócio?

Escrevo...

Escreve?

E eles dirão:

- Mas que ociosidade!

Sentido da poesia

 Alguém me disse que a poesia precisa ter sentido, dizer coisas conexas, senão, não é poesia. O que é ter sentido?  Que sentido é esse que s...