quarta-feira, novembro 05, 2014

Fuso (Anti)Horário

Fuso
Com-fuso
Com-tudo
Com-fundo

Fundo-me
In-fuso-lhe
Per-furo-te
Trans-fuso-nos

Fuso-nus
Com-fundo-nos
Para-fuso-me
Meta-fuso-lhe

Entre-fusos
Per-furados
Fu(n)didos
Estamos-nus

terça-feira, novembro 04, 2014

Sintonia

Sinto a euforia
Sinto a melodia
Sinto a magia:

- Sintonia -

Sintoma
Sinfonia
Singela
Simetria

Sim-trega
Sim-breaga
Sim-baraça

Simplesmente
Sim-sente
Sim-ama
Sim-carna

Sim!

Sim-fia
Sim-istura
Sim-filtra
Sim-panturra

Sim-volve
Sim-olha
Sim-ostra

Sim, sou eu
sou meu
sou sim
sou tua
sou teu
sou nua
sou inteira
sou metade
soul Sim


quarta-feira, setembro 24, 2014

Falo falado falido

A fala é um falo
preenche o buraco
d'um vazio que eu sinto

É também um obstáculo
que atrapalha a percepção
da imensidão do que não minto

A fala, mal utilizada
é um estupro do ouvido do outro:
é a falta de escrúpulo face à integridade
do silêncio sagrado e de ouro

A fala, um falo
que ocupa mas não preenche
que perturba e ressente
que elucubra, mas não compreende.

quarta-feira, agosto 27, 2014

Bate

Agora, neste instante,
os corações estão batendo.
Alguns, freneticamente,
outros, compassadamente.
Não importa a forma:
importa que batam, que toquem, que sintam.
E importa porque estes são nossos centros de vibração,
e porque até no mais frio e cruel homem
pode haver uma ponta, uma esperança,
um ponto mole e quente
chamado coração.

Suplica

Há que amar
ainda que seja tarde
frio
longe
doente
difícil
complicado
impaciente
Há que amar
ainda que se desacredite
desconfie
suspeite
ainda que negue
recuse
rejeite
Há que amar
ainda que seja
o último dia
há que amar
pois um dia será
o último dia.

quinta-feira, agosto 07, 2014

Trans-bordas

Direi sim
e deixarei a taça transbordar.
Cairei e, ainda assim, direi sim
e deixarei a taça transbordar.
Sofrerei, perderei, e continuarei
a dizer sim,
enlouquecerei, desesperarei,
e até morrerei,
e direi:
Sim, deixai a taça transbordar!

Somos, mas...

Somos quase nada

somos bem pouco

só somos um pouco mais

quando somos para o outro.

quinta-feira, junho 26, 2014

Casa

Moro em casa pequena

e durmo pelo chão

não tenho luxos

só conforto

habito

no calor do coração.

segunda-feira, junho 16, 2014

Si-mesma

Todo este deslize,
instabilidade, multiplicidade.
Todos estes tons, batons, 
brutalidade melódica dos sons.
O que já fui, já fiz, esqueci,
o que deixei, doei, perdi,
o que gritei, calei, pressenti,
o que divorciei, exorcizei, esculpi.
Não sei.
Não sei ainda. 
Não sei quem sou, nem por quê.
Sou, apenas soul.
Som, apenas imensidão.
Sonho, e pura imaginação.
Eu: des-sintonia e emoção.
Nenhuma lógica: logo, não sou,
não sou razão.
Eu? Entre o Sim e o Não.

terça-feira, junho 10, 2014

Não III

As vezes é preciso odiar o seu interlocutor até a última consequência
e deixar aflorar todos os sentimentos e argumentos
é preciso se desfazer de qualquer porto seguro
de todo esconderijo
é preciso vomitar as entranhas
necessário rasgar os véus
destilar o fel
sair da catacumba, da vala, do fosso 
do seu buraco tosco
que lhe mantém na inanidade do conforto

É preciso odiar até sentir-se totalmente só
a sós consigo, e ainda assim
tornar-se seu maior inimigo
é preciso virar-se do avesso
desconfiar da própria sombra
não acreditar facilmente na sua capacidade de amar
não passivamente perdoar
é necessário não abrigar nenhuma falsa compaixão
é preciso dizer não: é preciso ingratidão
é preciso odiar o seu irmão,
o seu interlocutor,
especialmente quando ele for
você mesmo!

segunda-feira, maio 26, 2014

Não

Perdi a afinação
a finura na ação
perdi a proporção
a ventura da emoção
perdi a ventilação
a doçura da razão
perdi o coração
no precipício
do não.

Profundo

Profundo
não é nenhum texto de todo esse mundo
profundo
é o canto de um pássaro
quando sentido num segundo
de silêncio das palavras:
ecoa em mim
a antiguidade do universo
a profundidade do espaço
a raridade do momento
a efemeridade da minha vida.
Desintegra-se toda a firme certeza
da profissão de fé que se faz da letra
esfacela-se a falha crença
numa verdade já dita e escrita
dissolve-se a bela e imperiosa
imagem do homem distinto.
O que fica?
Tudo o que sempre foi
antes do dito e escrito
todo o impronunciável
e até mesmo o inaudito.
Tudo o que não fomos
nem nunca seremos
mas que de alguma maneira somos parte
superficialmente produzindo palavras
ideias, explicações, poemas
no raso, na beira, na borda,
mas não no fundo.

quinta-feira, janeiro 30, 2014

Hoje

Não quero migalhas de gente cansada
nem torpes conversas de coisas passadas
não quero bocejos nem coisas adiadas
quero apenas o frescor da atenção
olho no olho, mão na mão
quero apenas o momento presente
a entrega à raridade
e a consciência da eternidade.

terça-feira, janeiro 28, 2014

Querer sem dar

Queres amor
sem dar amor
queres a dor
sem sentir a dor que causou
queres para si
os carinhos e cuidados
que não ofereces nem à mais humilde flor
queres a compreensão
que não tens nem pelo teu irmão
queres piedade
sem nem ao menos te importares
com os choros que causastes à tua mãe
queres os melhores pomos
os melhores pães
sem nem ao menos plantares
queres todos os cômodos
sem perceberes os teus incômodos
queres receber o que não tens para dar
queres esquecer
mas te faltas perdoar
queres culpar
mas te esqueces de desculpar
queres ser
mas te faltas crescer
inflamar teu coração encharcado de mágoas
da vida que não vivestes
das chances que não te destes
dos amores que não aproveitastes
das verdades que não suportastes
queres tudo
mas te enclausuras no nada
faz do ressentimento tua morada
e te entregas à uma vida
morta e enterrada.

Sentido da poesia

 Alguém me disse que a poesia precisa ter sentido, dizer coisas conexas, senão, não é poesia. O que é ter sentido?  Que sentido é esse que s...