sexta-feira, maio 21, 2021

Sobre os canibais dos "canibais"

 Quando Michel de Montaigne escreveu "Sobre os canibais" no ´século 16, ele sonhou em contar a Platão sobre a beleza deste lugar e de seus povos. Montaigne também demonstrou o seu receio de que a chegada dos europeus ao "Novo Mundo" pudesse ser desastrosa e devastadora, devido ao fato de seus conterrâneos terem os olhos maior do que a barriga... 

Agora, diria eu a Montaigne, que ele não se enganou em seus maus pressentimentos... mas que jamais pudera imaginar a qual ponto chegaria tamanha empreitada. O Novo Mundo foi invadido, saqueado, explorado em suas profundezas e entranhas... seus povos originários foram submetidos, subjugados, subalternizados, escravizados, violentados e assassinados. Seus territórios, mentes, corpos, línguas, crenças e cosmovisões foram silenciadas e roubadas. Seus saberes e fazeres ancestrais foram negados e invisibilizados. 

A Modernidade, do lado de cá, se impôs como colonialidade. O progresso, como servitude e escravização. O Humanismo, como racialização e classificação hierárquica entre humanos, sub-humanos e bestas selvagens. O capitalismo, como exploração dos minérios e do trabalho escravo, o que gerou a monetização e o enriquecimento do continente europeu. 

O lado oculto da Modernização é a colonização. É a divisão do mundo em centro e periferia. É a classificação das pessoas em raças. É a hierarquização das raças, dos povos, das línguas, das crenças, dos saberes, das visões de mundo. 

Quem são os selvagens?

sexta-feira, maio 07, 2021

Da lei

Desde que o céu desabou, nunca mais se viu a tranquilidade. 

O que era comum, se tornou distante, e a liberdade, relativa.

Se éramos realmente livres, não o sabíamos, mas a simples crença de que sim,

nos permitia ir e vir e acreditar na grande e infinita busca.

Suspensão das aulas, do trabalho, do salário, do tempo e da vida,

supressão dos sonhos, das esperanças, dos amanhãs e do encontrar saídas.

O tempo e a vida parou, mas os juros, a inflação, os impostos, a doença e a ferrugem

continuam a corroer o sangue e o suor. O horizonte se pôs, junto com o novo sol,

que não nasceu. A força do hábito se desfez, e a causalidade se refez, implacável, 

comprovando a lei da contradição, da infindável luta de classes,

onde sempre há opressores e oprimidos, 

os que se importam e os que desprezam vidas.

A casa

 É preciso construir nossa própria morada. 

Um lugar onde possamos nos proteger das intempéries,

da maledicência, do tumulto, dos juízos desalmados, 

do descaso e da frieza que, há muito, congela e paralisa os corações humanos.

Morada erigida sobre o autoconhecimento, decorada com autoficções.

Lugar de permissões, liberdade, espaço para ensaios de si e da vida.

Onde o medo não alcança, e a insegurança é apenas a abertura para o porvir.

Em seu centro uma lareira, clareira do amor, chama que aquece 

e que chama para o agora, o presente, o instante, 

momento em que as obrigações cessam, 

e os deveres silenciam. Serena a alma,

e se abre para a vida.


quinta-feira, maio 06, 2021

Cética subjetivista

 Por alguns instantes suspendo os juízos

junto minhas mãos e agradeço

o teto, o som, o canto.

Estes, não são meros fenômenos

ou fantasias.

São capricho, acalanto,

refúgio da própria alma

em sua leveza suspensiva

e aberta.



Ponto

 Não pensar nas pendências, e deixar a energia fluir.

Recuperar a leveza densa de  um dia chuvoso  

tocando as teclas sonoras da alma sofrida.

Um sorriso e um aceno

às folhas em branco

Ponto.

Sentido da poesia

 Alguém me disse que a poesia precisa ter sentido, dizer coisas conexas, senão, não é poesia. O que é ter sentido?  Que sentido é esse que s...