sexta-feira, outubro 19, 2018

Descaminhos

Quero ir por caminhos que desconheço
Sem tantos planos, projetos ou promessas
Pegar as estradas das estrelas
As estadas nas incertezas
Os estalos do indefeso
Os estrondos do inconfesso
Quero ir, andar e ir, caminhar
Para o além do cálculo
Do que se espera da vida
Do algoritmo que controla
quem vai e quem fica
Seguir em frente sem o medo
Do passo para o desconhecido
Quero a liberdade da autodeterminação
A verdade da imaginação
Seguir as veredas da carne
Jorrando vida
E da vida o inominável
Instante da partida

terça-feira, agosto 21, 2018

Doação do dado

Entre o passado e o futuro nada está dado
Apenas o presente, insistente, se põe como abertura do possível.
Um passo sem direção por entre a névoa do destino
Desconhecido que é o porvir e o por ir.
Tecendo o agora com os fios da indeterminação
alcançados com as mãos da vontade de criação.
Nada dado entre o além e o aquém.
Nada posto a partir das expectativas,
dos projetos corrompidos pelas ideologias dominates
E quem diria que haveria libertação, possibilidade,
capacidade de superação?
Nada dado, apenas dor, doa a quem doer
doação.

quinta-feira, janeiro 04, 2018

Ensaio da vez

Sonhei viver num sempre ensaio, a tocar instrumentos com os amigos e escrever frases e rascunhos sem fim. Era dia, ou era noite, não importava, mas a qualquer instante surgiam novas melodias, novas frases e poemas que captavam o agora e o transformava em bolhas de ar, em gotas frescas de orvalho e ainda em perfumadas pétalas da mais vibrante cor. Era ensaio cada ação, sem começo, nem fim, nem duração, era apenas um sempre ensaio, que nos presenteava com a abertura do horizonte e de possibilidades sempre novas, ou velhas (realmente não importava), de recomeçar, de justapor, de refazer, de acrescentar e não precisar justificar. Era ensaio nosso de cada dia, como uma sempre música que nunca acaba, mas que se renova com a mudança do vento, com a temperatura, e ainda com o temperamento. Era o ensaio da vez que se desabrochava, sem plano prévio, mas na direção da intuição latente. E os pássaros das ideias voavam, sem gaiolas, sem precisar voltar, apenas pousar onde e como quisessem. Era sempre tempo de nascimento, nascença e renascença, tempo de vir a ser sem hora marcada, tempo de morrer como a fruta cai do pé. Era ensaio da criação que jorra do ventre, sem regras, métricas ou normas técnicas. Apenas ensaio da ação, da criação, da comoção do pensamento. 





terça-feira, janeiro 02, 2018

Super lua

Quero esta lua cheia, com toda sua intensidade profunda e obscura
caminhar pelas ruas sem medo da sombra,
atravessar os bosques, os becos, as bocadas,
sentindo a brisa noturna que refresca a minha alma
tão antiga e jovem como o tempo.

Quero ser transportada por esta super lua
para o todo sem lugar, pelo mistério do desdobramento,
para a abertura do terceiro olho
que num sobrevoo de um instante
percebe cada detalhe do caos circundante.

Quero mergulhar na densidade deste luar
que consigo enovela todos os segredos do arrependimento e do não vivido
vagar em silêncio e solitariamente
descobrindo o meu lado oculto e na espreita do próximo passo
saber-me indecifrável e inteira como esta lua cheia.

Sentido da poesia

 Alguém me disse que a poesia precisa ter sentido, dizer coisas conexas, senão, não é poesia. O que é ter sentido?  Que sentido é esse que s...