terça-feira, dezembro 14, 2010

Um ninho

Venha, venha cá!
Aqui há um galho, há um ninho
há uma casa, um pomar
para abrigar os passarinhos!

Pequeninos passarinhos
aqui podereis voar, borboletear
pequeninos...
podereis cantar o seu canto de carinho

Pequeninos, o que eles não sabem
é que apesar de toda destruição,
guerra, corrosão
ainda há um espaço para morar:
fica dentro do coração!

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Mundo Novo

Criações?
Crianções!
Sim! Crianças grandes
vivendo de fantasias
que não são em nada
menos reais do que
o mundo quadrado adultizado

mais vantagens:
não há vergonhas
que impeçam a expressão
nem limites para a expansão
- há ainda muito o que crescer!

Uma configuração diferente -
não nomenclaturar!
Apenas pintar, ilustrar, perfumar
inventar, admirar: sonhar

Desta fantasia
a vida
o nosso habitat
a poesia!

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Sensibilidade financeira

Sim, você tem sensibilidade

pena que ela é curta, rasa..

justamente porque ela acaba

aonde começa o império da grana.

Vidente

Pode ser que sua máscara seja espessa o bastante
para que não te vejam.
Pode ser que sua fantasia seja tão alegórica
que não lhe reconheçam.
Mas de mim
você não se esconde!
Vejo você!
Tuas raivinhas e ódios
gostos e desejos profundos
pensamentos esquivantes e macabros.
Vejo você no silêncio do seu quarto
rindo sozinho e desfazendo-se em lágrimas
teu céu e teu inferno
teu divino e teus demônios.
E quer saber mais?
Não precisa se esconder!
Porque eu
também sou igual a você!

No adjective

Peço encarecidamente:
Não me adjetive!
Isto poderia acabar
com a nossa tão promissora amizade.
Ao me pensar como isto ou aquilo
estaria me congelando
paralisando um defeito momentâneo
algo passageiro
por questão de aprendizagem.
Ao aí focar
me condenaria em não mais crescer.
Também peço:
não eleve ações qualitativamente
consideradas boas
elas também são transitórias!
Não jogue confetes...
Poderia me fazer acreditar melhor do que sou
e tão somente NÃO SOU.
nem aquilo, nem isto
nem adjetivo algum.
sou apenas o que vou sendo
como você, aprendendo.
e então amigo
seremos para sempre indefinidos -
indefinidamente, amigos.

Meus cabelos

Quando eu for bem velha
- e velha de cabelo branco -
como será meu cabelo?
Branco? colorido?
curto? comprido?
arrumado? bagunçado?
será que vou deixar
solto e despenteado?
Ah... vou deixar...
deixar o tempo
o arrumar...

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Quando o amor me invade

Quando o amor me invade
e preenche todo o meu dia
já mais nada que dói corrói
e as tristezas são pura melancolia

esqueço mágoas, rejeições, covardias
esqueço tudo e sou pura euforia
quando o amor me invade
sou eu a idiorritmia

Ah, e quando ele me invade
sou eu um pássaro, uma criança
sou eu riso, música, dança
sou planta, palavras, doce esperança

O que te dou

O que te dou você não sabe
mas são gotas da minha carne
sangue de poesia

o que te dou você não sabe
mas é muito do que arde
do que me inebria

o que te dou você não sabe
mas é o sublime desta tarde
única verdade que sacia

o que te dou você não sabe
vai com o vento
vem com a sinestesia

você não sabe
mas invade
provoca
irradia

não sabe?

fantasia...

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Poço sem fundo - um Biografema

Sangue. Foi da dor que eu nasci. Não apenas da minha mãe. Da dor da minha mãe. Da minha dor. Um machucado na testa aos 3 anos de idade. Também foi dali que meu pai nasceu para mim, com seu primeiro cuidado da filha machucada.

Havia um menino mamando nos seios de minha mãe... e ele era meu irmão! Doeu também... Mas a dor sempre passa... Ao menos, têm passado.

Dores do passado, dores que tenho passado, dores que passaram.

Tenho nascido, e aprendido! com as dores.

Dançando e cantando. Há a alegria! A arte! A liberdade! Ainda menina, bem cedo, já era o que me encantava, me embalava. Era menina. Era a própria alegria. Da inocência que dança, da pureza que canta. Dançava, rodopiava, piava, cantarolava, para ninguém... para mim! para a vida!

Mudanças. Cidades. Muitas caixas. Caixas de lembranças que ficaram para trás. De amigos, de escolas, de casas. Caixas do nunca mais. Caixinhas dentro de outras caixas dos meus eus encaixotados. Caixas extraviadas. Caixas arregaçadas. Quanto peso para carregar na memória, quanta perda para suportar o coração. Quanto alívio o voo, a fuga!

Mudanças – do eterno devir – andanças.

A letra. O desenho. As leituras: começo de uma grande aventura.

Imagem, imaginação, viagem. O nascimento de um novo mundo, e este, do amor entre eu e o mundo. E então as cores, as formas, as palavras. Ah! quantas profundezas que saem do papel – poço sem fundo. Vi minha vaga imagem como num reflexo dentro do poço – e esta, também era sem fundo. Sem fundo e sem fundamentos. Carregava por vezes tormentos... Mas era bela, porque também era o Mundo!

Bebo e vivo da água deste poço, que gota a gota, inesgota minha insaciável sede de ser.

Foi do sexo entre o nascimento, a dor, a dança, o canto, a mudança, a letra e a leitura que pari a filosofia. E Desta, a poesia. Não haveria como dizer o indizível. Mas houve como cantá-lo. Como desenha-lo. Como esboça-lo, borrá-lo, esculpi-lo, inventá-lo. Não houve como pega-lo. Mas houve como sussurrá-lo.

Vozes

Escutei você.
Pensa que foi fácil?
Não, não é fácil silenciar minhas vozes
minhas vorazes vontades falantes
minhas tagarelices do desejo meu.
Mas ontem eu escutei você.
Havia um silêncio em mim.
Um certo cansaço de minha voz
de meu, de eu, um tédio d'eu.
Escutei você - música estrangeira -
e percebi que só escutando você
com tudo que você tem a dizer
incluindo o não dito
é que haverá nós.

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Perigos do filosofar

Karl Jaspers adverte:
Filosofar é perigoso!

Não por causa das verdades alcançadas
que são sempre provisórias
mas pela busca incessante que se empreende -

"Quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem,
escuta o que ele diz,
observa o que ele faz
e se interessa por sua palavra e ação,
desejoso de partilhar,
com seus concidadãos,
do destino comum da humanidade."

e esse olhar para dentro de si
e para o outro
pode gerar grandes riscos!

Arriscar ou não arriscar?
eis a grande questão!

(Karl Jaspers, Introdução ao pensamento filosófico)

Balão Cativo

Pedro Nava me cativou
em seu Balão Cativo
me levou:
acima dos morros
do Imperador e do Barro Vermelho
sobrevoando a Serra do Curral
e o Engenho Velho
com suas infinitas memórias
viajei longe...
Infância, quintal, frutas,
animais, família, casas,
dores, solidão, alegria,
escolas, amigos, lições...
para sempre lições das aulas:

"Era a verdadeira viagem
sempre começada jamais findada..."

(Pedro Nava, Balão cativo: memórias/2, 1973)

Sentido da poesia

 Alguém me disse que a poesia precisa ter sentido, dizer coisas conexas, senão, não é poesia. O que é ter sentido?  Que sentido é esse que s...