terça-feira, junho 10, 2014

Não III

As vezes é preciso odiar o seu interlocutor até a última consequência
e deixar aflorar todos os sentimentos e argumentos
é preciso se desfazer de qualquer porto seguro
de todo esconderijo
é preciso vomitar as entranhas
necessário rasgar os véus
destilar o fel
sair da catacumba, da vala, do fosso 
do seu buraco tosco
que lhe mantém na inanidade do conforto

É preciso odiar até sentir-se totalmente só
a sós consigo, e ainda assim
tornar-se seu maior inimigo
é preciso virar-se do avesso
desconfiar da própria sombra
não acreditar facilmente na sua capacidade de amar
não passivamente perdoar
é necessário não abrigar nenhuma falsa compaixão
é preciso dizer não: é preciso ingratidão
é preciso odiar o seu irmão,
o seu interlocutor,
especialmente quando ele for
você mesmo!

3 comentários:

Daniel disse...

Odiar e dizer não a si mesmo... Contrapor-se aos próprios pensamentos e crenças. Bem interessante e pode fazer crescer. Mas até que ponto? E se não cabermos mais na carapaça? Haverá outra moradia?
Ótimo pensamento filosófico. Parabéns!

Publiquei um soneto, e acho que tem um pouquinho de filosofia no finalzinho dele. hehehe

http://wordsinthesea.blogspot.com.br/2014/06/soneto-ao-vento-que-te-lembra.html

Unknown disse...

Finalmente alguém poetizou o que eu sempre quis dizer...pessoalmente sempre vou preferir isso - de modo autêntico - do que essa "mediocridadezinha" de amar todo mundo,tudo perdoar e manter a máscara da hipocrisia sempre! Ufa!

Flora disse...

Tem um filme chamado Code 46,e há uma cena da leitura da frase de um livro (não se sabe de quem nem o nome):
"E você deve estar íntimo do seu melhor inimigo, enquanto resiste."

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