domingo, setembro 05, 2010

sobre o Espírito Livre (Freier Geist)

Sofria pois
de uma dor virtual
seus olhos quadrados
e sua boca a teclar
se dabatia num tic tic ta
de dar dó.
era tarde e queimava o velho sol
cintilando nas folhas, gramas, nuvens e meninos
todos lá fora
vivendo na doce alegria da vida ao vivo
enquanto ela
aprisionada na tela
nas teclas indecifráveis dos códigos das gentes
esvanecia-se em dores internéticas
com a pele pálida e as olheiras pretas
em busca de seu amor
virtual...
e foi num último suspiro diante de tudo aquilo
que olhou pela janela
e viu um avião cruzar o céu-ar
o sol se deitar
as luzes se acender
sentiu um algo estranho de vida viva
um frio na barriga, na espinha
uma alegria no coração que palpitava
diante daquilo que se descortinava:
era livre
e tinha uma vida inteira de vida-gozo
vida-cheiro, vida-corpo
vida-de-gente
que apesar de todas aquelas labrirínticas prisões
correntes e tapumes
que lhe impuseram até então
através do medo, desconfiança, julgamentos, convenções, moral
e parafernalhas mil
ela sobrevivera
conseguira levantar seu voo
imprimir seus sentimentos profundos
seus afetos e afeições
até mesmo seus sonhos e ilusões
admitindo para si mesma ser aquilo a vida-viva
sem regra, bula, norma, mandato, leis, chaves e cadeados
sem ter que ser como tal
à força histórica dos costumes
fatalidades, regimes e necessidades
descobrira sim, como quem descobre um segredo inviolável
que era livre
e desde então decidira fazer de si,
desse si que é a própria vida,
um lugar de passeio, de beleza e de amor,
apesar de toda a dor!

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