quarta-feira, maio 22, 2013

Dissimula

Doces ilusões
que se empalidecem
com o escorrer da maquiagem.
Doloridas ilusões
que se esfacelam
em carne viva.
Ilusões vindas
de lugar nenhum -
das telas de vidro -
ficções, esquizofrenias,
vazios, suicídios.
- E se tudo fosse
bom e belo,
e se tudo fosse verdade?
E se a fala realmente
criasse realidades?
E se existisse a amizade?
O que tateamos
com tanta pressa?
O que ensurdecemos
com tantas palavras?
Agridoce ilusão...
Por quais caminhos subterrâneos
atravessa o desespero?
Por quais dissimulações
se evita arrancar a máscara
e sangrar até a morte?
Quantas cascas, e coices,
e couros, e carapaças,
quantas trapaças?
Quantos enganos, engodos,
engasgos, grunhidos,
quantos sarcasmos,
sarjetas, sacanagens,
e todo tipo de imundícies
para se forjar o que
não se é?


Você diz...

Você diz
que a culpa é da filosofia
mas não percebe
sua loucura a cada dia.
Você cria, recria,
mente, desmente
suas categorias
mas entre o dizer e o fazer
há um intransponível querer.

Você diz
que a culpa é da filosofia
mas se deixa levar
Você faz e desfaz
fala e volta atrás
dá com a língua
nos dentes demais.

No entanto,
ouça meu canto,
mais vale calar,
amar e errar.
Mais vale a solidão
e a dureza do não
do que boca cheia
e vazio coração.

Do Antigo

Ele era do tempo
em que ainda se acreditava
na imagem, na palavra
em que não se temia
a ação livre, despojada
e sua má interpretação.
Ele aparecia, sorria
se expunha
argumentava, contrastava
e até dançava.
Ele era do tempo
em que as coisas não se tornavam
descartáveis, banalizáveis,
estupidamente consumáveis.
Era do tempo
em que se sonhava
e se podia levar a sério
a inventiva porção
de seu espaço mais íntimo,
que era o coração.

Sentido da poesia

 Alguém me disse que a poesia precisa ter sentido, dizer coisas conexas, senão, não é poesia. O que é ter sentido?  Que sentido é esse que s...