Ele me disse tantas coisas importantes,
assuntos relevantes
falou da nossa vida
nossa história, nossa ferida
falou da nossa fraca condição
nossa miséria e ambição
me mostrou que somos feitos de pedaços
do hábito, do acaso
do que inventamos, fantasiamos
e nos enganamos
me mostrou que pela letra
muita coisa podia ser feita
que barreiras poderiam ser desfeitas
que nossos defeitos compõem o nosso jeito
que a cada dia, cada tentativa reescrita
confessada e assumida
se tornaria autoconhecimento
que as palavras sinceras
compõem nossa atmosfera
que os pensamentos expressados
refazem o nosso passado
que a ideia bem dita
se torna nossa amiga
nas horas das dores,
do parto, do choro
nas horas aflitas, contritas, malditas
que escrever é cantar a vida
é sangue, é carne, é substância unida
que pode ser mentira ou verdade
tudo depende da lealdade
que se tem, àquilo que lhe advém
e da coragem de dizer
o lado negro de seu ser
da vontade de crescer
e também de conhecer
ele me mostrou
que o ensaio também faz parte do show
que tudo pode ser importante
e que isso depende do valor
que se dá a cada instante!
sábado, fevereiro 28, 2015
Onírico
Entre o sonho e aquilo que se sonha
há, se não um elo perdido,
um elo não tão facilmente encontrado:
entre ser apenas um sonho
e ser aquilo que se sonha
há uma misteriosa conexão
não revelada pelo estado de dormência -
não plenamente desvelada pela vigília -
há dores jamais conhecidas
e dores incognoscíveis
há um não sei o que de nós
que não sabemos o que é
uma vontade inexplicável
pelos espaços estelares
um brilho, quase um delírio
de algo muito lindo
porém intangível
há, se não um elo perdido,
um elo não tão facilmente encontrado:
entre ser apenas um sonho
e ser aquilo que se sonha
há uma misteriosa conexão
não revelada pelo estado de dormência -
não plenamente desvelada pela vigília -
há dores jamais conhecidas
e dores incognoscíveis
há um não sei o que de nós
que não sabemos o que é
uma vontade inexplicável
pelos espaços estelares
um brilho, quase um delírio
de algo muito lindo
porém intangível
terça-feira, fevereiro 17, 2015
Arrependimento
Quero
eu quero
contudo
não deveria.
não quero
me arrependo
exonero
e volto
a querer.
queria...
todavia
não posso mais.
- volto a querer -
confundo
me afundo
não mais querer
quero
é tarde
desquero
a parte,
te quero
destarte
me impeço
de achar-te
não quero
me condeno
me despeço
e aceno
sigo, prossigo
volto
ao problema
querer eu
quereria
embora
não deveria
mas eu quero
e não posso
o tempo
se fechou
e o azar
é nosso
eu quero
contudo
não deveria.
não quero
me arrependo
exonero
e volto
a querer.
queria...
todavia
não posso mais.
- volto a querer -
confundo
me afundo
não mais querer
quero
é tarde
desquero
a parte,
te quero
destarte
me impeço
de achar-te
não quero
me condeno
me despeço
e aceno
sigo, prossigo
volto
ao problema
querer eu
quereria
embora
não deveria
mas eu quero
e não posso
o tempo
se fechou
e o azar
é nosso
sexta-feira, fevereiro 13, 2015
Minha janela
O vento, as árvores, os pássaros
e as folhas dançando em roda no bosque
a todo instante me permitem um retorno
ao momento primordial da criação
Cessa a história dos homens
silencia o tumulto do mundo -
é um ainda poder habitar a Natureza
e dela me sentir parte
Pelos olhos ou pela ilusão
que eu faço questão de inventar a cada dia -
olho pela janela, caminho descalça pela grama fresca
absorvo o calor do sol em minha pele...
Apenas vivo...
O vento, as árvores, os pássaros
e as folhas dançantes do bosque...
Respiro.
e as folhas dançando em roda no bosque
a todo instante me permitem um retorno
ao momento primordial da criação
Cessa a história dos homens
silencia o tumulto do mundo -
é um ainda poder habitar a Natureza
e dela me sentir parte
Pelos olhos ou pela ilusão
que eu faço questão de inventar a cada dia -
olho pela janela, caminho descalça pela grama fresca
absorvo o calor do sol em minha pele...
Apenas vivo...
O vento, as árvores, os pássaros
e as folhas dançantes do bosque...
Respiro.
quarta-feira, fevereiro 11, 2015
Medievo
Entre vozes estranhas
e línguas vorazes
acordei em plena Idade Média
em um mundo que se quer
imutável, datado, rotulado:
abrigos feitos de pedra
carroças de metal
enfeites de ouro -
tudo feito pra durar
pro homem se eternizar
através da materialidade
sua devoção e transcendência
pela via dos monumentos e fortalezas
fortes e igrejas -
a beleza se fazia
em um molde arrogante
em mentiras construídas -
à imagem de seus anseios
e semelhanças
e línguas vorazes
acordei em plena Idade Média
em um mundo que se quer
imutável, datado, rotulado:
abrigos feitos de pedra
carroças de metal
enfeites de ouro -
tudo feito pra durar
pro homem se eternizar
através da materialidade
sua devoção e transcendência
pela via dos monumentos e fortalezas
fortes e igrejas -
a beleza se fazia
em um molde arrogante
em mentiras construídas -
à imagem de seus anseios
e semelhanças
domingo, fevereiro 08, 2015
Encontrar a voz
Encontrar a voz
entre a ativa e a passiva
a voz que não condena
nem petrifica
encontrar a voz
menor, distribuída
a voz do possível
das frestas, a voz
que não berra,
não cala,
só associa.
Encontrar a voz
em meio tom,
entre o dado e o incriado,
entre o criador e sua cria,
a voz que não teme,
mas também não se apropria.
Encontrar a voz
sem patrão e sem lacaio
sem certezas, sem serviços
sem serventia
e sem trabalho.
entre a ativa e a passiva
a voz que não condena
nem petrifica
encontrar a voz
menor, distribuída
a voz do possível
das frestas, a voz
que não berra,
não cala,
só associa.
Encontrar a voz
em meio tom,
entre o dado e o incriado,
entre o criador e sua cria,
a voz que não teme,
mas também não se apropria.
Encontrar a voz
sem patrão e sem lacaio
sem certezas, sem serviços
sem serventia
e sem trabalho.
Michel de Montaigne
Lendo-o, pensaram tê-lo compreendido
muito dele falaram e escreveram
mas nada fizeram
daquilo que ele havia dito:
agiram de modo contrário
exatamente da mesma maneira
que por ele fora tão criticado.
Falando sobre os ensaios,
continuaram a assinar contratos
e a estabelecer as diretrizes dogmáticas
e pedantes do mundo letrado.
muito dele falaram e escreveram
mas nada fizeram
daquilo que ele havia dito:
agiram de modo contrário
exatamente da mesma maneira
que por ele fora tão criticado.
Falando sobre os ensaios,
continuaram a assinar contratos
e a estabelecer as diretrizes dogmáticas
e pedantes do mundo letrado.
Aceite
Aceite-se
e durma tranquila
repouse sua cabeça num doce regaço
que amanhã não tarda
e hoje pode ter sido
seu último dia.
Aceite-se
e desfaça-se
de todo atordoamento
advindo do tumulto do mundo.
Hoje vivemos e sonhamos
que estamos vivendo
e estes sonhos nos enlevam
para onde quisermos...
mas se nossos devaneios
forem envenenados
nada é o que nos restará
e estaremos despidas
de nossa alma, de nossa essência,
daquela porção etérea
que nos dá forma
e durma tranquila
repouse sua cabeça num doce regaço
que amanhã não tarda
e hoje pode ter sido
seu último dia.
Aceite-se
e desfaça-se
de todo atordoamento
advindo do tumulto do mundo.
Hoje vivemos e sonhamos
que estamos vivendo
e estes sonhos nos enlevam
para onde quisermos...
mas se nossos devaneios
forem envenenados
nada é o que nos restará
e estaremos despidas
de nossa alma, de nossa essência,
daquela porção etérea
que nos dá forma
sábado, fevereiro 07, 2015
Big-Bang
Quero abrir meu coração
- mas não em um procedimento cirúrgico -
quero abri-lo em explosão
em uma intensa profusão de sangue
de vida jorrando seiva fecunda
quero rasgá-lo com fogos de artifício
da mais alucinada pirotecnia de cores e brilhos -
quero expô-lo na janela
de algum prédio ressecado e ressentido
quero dispará-lo em tambores
advindos das mais profundas florestas
d'onde a vida ainda queime
em sua faísca mais primitiva
quero expandi-lo e virá-lo do avesso
e que ele engula o mundo inteiro
triturando de amor cada carne fria e amargurada
cada desamor que machuca,
que tortura e que mata.
- mas não em um procedimento cirúrgico -
quero abri-lo em explosão
em uma intensa profusão de sangue
de vida jorrando seiva fecunda
quero rasgá-lo com fogos de artifício
da mais alucinada pirotecnia de cores e brilhos -
quero expô-lo na janela
de algum prédio ressecado e ressentido
quero dispará-lo em tambores
advindos das mais profundas florestas
d'onde a vida ainda queime
em sua faísca mais primitiva
quero expandi-lo e virá-lo do avesso
e que ele engula o mundo inteiro
triturando de amor cada carne fria e amargurada
cada desamor que machuca,
que tortura e que mata.
Inscrito
Aquilo que você quer
escreva na tua pele
com letras maiúsculas e legíveis
e se faça inteligível
ao tato e ao olfato
e também ao intangível -
escreva em tua carne
crave com unhas, com fatos,
com sangue e arte.
escreva na tua pele
com letras maiúsculas e legíveis
e se faça inteligível
ao tato e ao olfato
e também ao intangível -
escreva em tua carne
crave com unhas, com fatos,
com sangue e arte.
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