Veio com o peito aberto, exposto, jorrando seiva fecunda. Abertura tamanha que nela cabia o mundo, o céu e as estrelas, mais o infinito e todo o amor impossível. O que isso dizia? Que não havia espaço - e nem tempo - para o medo. Que o medo, monstro cruel e covarde, inimigo do instante, devorava os seus filhos hesitantes, e num único passo contido, perdia-se o direito à eternidade. Veio com o peito escancarado, para ensinar que quando se abre o coração o universo se expande e o buraco negro da solidão se vira ao avesso, espalhando novas sementes de amor e esperança, que vão gerar vida aonde ainda houver fertilidade: o buraco negro vira placenta de incontáveis mundos que se precipitam no porvir - sem medo! Ainda dizia mais: que as feridas cardíacas são crias do fechamento do peito, e que a cura está na abertura, no escancaramento das dores, do amor, do desejo, livre do controle da matéria morta, do cálculo da bolsa de valores e do metro quadrado dos muros e das portas.
sexta-feira, dezembro 01, 2017
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