Do instante

Captar o instante. Eis o maior desejo de todo ensaísta e amante. Captar e fruir o instante, com todos os detalhes insignificantes e tão simbólicos como a própria vida. Pintar o instante com todas as misturas de tintas, todas aquelas que forem necessárias pra exprimir aquilo que é no momento que está sendo. Dedos como pincéis e cores como corcéis livres a escrever o destino fortuito e incerto. A paixão pelo instante pintado com fidelidade, instante pintando como instante, um duplo do mesmo que passa de uma coisa a outra sem diferença ontológica, apenas com diferença estética. Criação de diferença pela percepção da diferença. Pintar o instante fugidio sem medo das metades subjetivadas, sem vergonha de não saber com exatidão aquilo que escapa. Rasgar a folha em branco com o que brota do agora: dor, destino, desistência. Cravar as unhas no presente pra fazer escorrer o sangue que revela a vida, a pulsação, aquilo que ainda arde no fértil ventre da escrita.

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